Peça flagra a mente de uma mulher em crise

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Por Redação
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A vida, de tão insuportável, pode virar sonho. Eis o percurso empreendido por Susan, a protagonista de Isso É o Que Ela Pensa. No espetáculo, que o diretor Alexandre Tenório leva ao palco do CCBB, flagra-se a crise de uma mulher de meia-idade: infeliz com o casamento, frustrada com a maternidade, decepcionada com os rumos que sua vida tomou. Diante de tantos planos gorados, a personagem interpretada por Denise Weinberg inventa um jeito de escapar. Após bater a cabeça, passa a fantasiar a existência de um marido perfeito, de uma filha amorosa, de um irmão zeloso. "Ela projeta o sexo, o amor, a segurança", pondera o encenador. Em suma, todos os afetos que a vida não lhe deu. Por quatro vezes Alan Ayckbourn dirigiu essa peça. Escrito em 1985, o texto marcou a maturidade artística do escritor que, à época, já contabilizava quase 30 anos de carreira. Em Isso É o Que Ela Pensa ele manteve o arcabouço de comédia. Conservou os diálogos rápidos, certeiros. Mas mostrou-se pronto também para desvendar questões mais profundas: escrutina o inconsciente de alguém à beira de colapso. "A partir de uma certa idade, estabelecemos uma relação quase esquizofrênica com a proximidade da morte, com essa noção de finitude. Passamos a examinar tudo o que não fizemos. Mas, por alguma razão, esse é um assunto que ainda discutimos muito pouco", considera Denise Weinberg, atriz que há pelo menos dez anos planejava montar essa obra. O desejo encontrou eco na ambição do diretor Alexandre Tenório - que já havia encenado outro texto de Ayckbourn, A Serpente no Jardim (2011). E também teve acolhida do ator Eduardo Muniz, que assina a produção do espetáculo e sobe à cena no papel de filho de Susan. Entusiasta do dramaturgo, Muniz fez um estágio de dois meses com ele. Em Scarborough, na Inglaterra, acompanhou o processo de ensaios de seu mais recente espetáculo, investigou seu método de criação e adquiriu os direitos para montar Isso É o Que Ela Pensa no Brasil. "Para mim, ele tem a estatura de um Shakespeare, de um Chekhov", acredita o ator. É esperar para ver o lugar que a história reservará ao dramaturgo. / M.E.M.

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