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Peça fala do cotidiano com poesia

Quinhentas Vozes, interpretada por Silvanah Santos, uma das atrizes mais talentosas do Paraná foi criada a partir da obra poética de Zeca Corrêa Leite, mistura política e poesia no palco

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de uma temporada bem-sucedida em Curitiba no início do ano, estréia nesta sexta-feira no Espaço dos Satyros a peça Quinhentas Vozes, interpretada por Silvanah Santos, Álvaro Bitencourt e Mário da Silva. Rodolfo Garcia Vázquez - diretor do grupo Satyros, fundado há 12 anos, com 30 espetáculos no currículo e, atualmente, sede em Curitiba e São Paulo - criou um roteiro para o espetáculo a partir da obra poética de Zeca Corrêa Leite, contista, poeta e jornalista nascido em Sorocaba e radicado em Curitiba há 20 anos. "Tudo começou quando convidei Silvanah - uma das atrizes mais talentosas do Paraná - para participar de uma homenagem que seria feita a Elis Regina na TV Educativa, num de seus aniversários de morte, em janeiro de 1999 ", conta Zeca, por telefone, de Curitiba. "Silvanah pediu que eu escrevesse algo para ela interpretar." Pouco afeito à linguagem dramática, Zeca decidiu escrever poesias, porém em primeira pessoa, do ponto de vista de uma mulher." Todas as poesias criadas por Zeca para Silvanah foram publicadas no livro Quinhentas Vozes (Editora Polo/R$10,00). Mas nem todas estão no espetáculo homônimo. "Procurei dar unidade dramática, criar um desenho, uma trajetória para essa mulher", diz Vázquez. As poesias saem naturalmente da boca da atriz, que fala de seu cotidiano enquanto ouve rádio. Em seu roteiro, o diretor definiu tempo, local e um perfil para a mulher interpretada por Silvanah. "Ela vive numa cidade interiorana. Quando a peça começa, estamos em 1954, mais precisamente um dia após o suicídio de Getúlio. E tudo termina um dia após a deflagração do golpe militar de 1964." Pano de fundo - Tal definição de tempo propiciou um rico pano de fundo para o cotidiano dessa mulher. "Foi uma década de profundas transformações. Com Juscelino na presidência, o Brasil passou de agrário e rural a urbano e industrializado. A capital foi transferida para Brasília. É nesse período que surge a pílula anticoncepcional, a bossa nova." Sem abrir mão do texto original - as poesias de Zeca -, Rodolfo as selecionou e ordenou de tal forma que criou um paralelo entre as transformações do País, que chegam através do rádio, e as mudanças interiores da personagem. "No início, ela é uma dona de casa oprimida. Num dado momento, é abandonada pelo marido e, no fim, há uma associação entre o sonho de um país justo - acalentado na década de 60 - e o sonho de libertação dessa mulher", comenta Rodolfo. Sonhos realizados? A peça termina antes de dar respostas, muito provavelmente desnecessárias. Na trilha sonora impera a música popular: Ângela Maria, Cauby Peixoto, Dolores Duran e até mesmo as duplas caipiras tinham no repertório músicas de compositores como Lamartine Babo. Uma canção interpretada por Alaíde Costa - que garantiu prestigiar a estréia - encerra o espetáculo. Quinhentas Vozes. De Zeca Corrêa Leite. Direção e adaptação Rodolfo Garcia Vázquez. Duração: 90 minutos. Sexta e sábado, às 21 horas; domingo, às 20 horas. R$ 20,00. Espaço dos Satyros. Praça Roosevelt, 214, tel. 258-6345. Até 16/9

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