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Peça encena os limites da paixão

Estréia nesta sexta Tudo de Mim, peça de Petrônio Gontijo e Emílio Boechat, sobre um casamento ideal

Por Agencia Estado
Atualização:

O relacionamento ideal, acreditam os casais, é aquele em que a paixão é sustentada ao longo dos anos sem que se percam os objetivos pessoais e a individualidade de cada um. Mesmo considerando isso uma missão quase impossível, é o que se propõem Juliano e Marcela, personagens da peça "Tudo de Mim", que estréia amanhã, em São Paulo. "Este é um espetáculo sobre a coragem e a busca da essência", comenta o ator Petrônio Gontijo, que escreveu o texto em parceria com Emílio Boechat. Gontijo vive Juliano e divide o palco com Bianca Rinaldi. "São dois personagens que começam o espetáculo em ação num movimento que tende à insatisfação", conta o ator. Realmente, no início da peça, Juliano atende a um pedido de uma amiga para hospedar em sua casa Marcela, que chega de viagem de Londres onde fez um curso de especialização em moda. O que seria uma hospedagem de uma noite prolonga-se por vários dias, transformando-se em paixão. Os dois decidem morar juntos e a relação começa a ser marcada pelas diferenças de comportamento. Para evitar a separação, o casal decide firmar um pacto de sinceridade. "Mas, o que seria uma solução para os problemas, acaba gerando uma crise maior que só é resolvida com um lance inesperado", conta Bianca. O título "Tudo de Mim" é revelador, pois inclui histórias de todas as pessoas envolvidas no processo. O processo começou há um ano, quando Gontijo buscava um texto para encenar ao lado de Bianca, com quem protagonizou a novela "Pícara Sonhadora", do SBT. "Durante uma conversa com Fauzi Arap, expus as minhas inquietações e ele me incentivou a escrever uma peça", conta o ator que, depois de rascunhar diversos papéis, bateu na porta de Emílio Boechat, solicitando o auxílio de um dramaturgo profissional. Foi o início de um processo intenso de trabalho, com constante reescrita do texto - até a semana passada, o número de versões ultrapassava 50. Ao mesmo tempo, unia-se ao grupo o diretor Abílio Tavares, que dirige o Teatro da USP (Tusp) e seu núcleo artístico. Foi lá que ele desenvolveu o espetáculo "Interior", em que um grupo de jovens dramatiza experiências pessoais. "Assim que Petrônio me contou sobre seu projeto, percebi que a direção teria de ser minha", conta Tavares. Na sua concepção do espetáculo, o importante era destacar a simplicidade dos diálogos para que a transformação dos sentimentos dos personagens surgisse com naturalidade. Para isso, aconselhou o grupo (especialmente o casal de atores) a passar pela casuloterapia, técnica desenvolvida pela psicoterapeuta Helena Martins em que a pessoa fica afastada, em regime de reclusão, durante no mínimo três dias. "Fomos para uma casa preparada energeticamente e lá utilizamos uma roupa especial para facilitar o esquecimento da rotina na cidade grande", conta Bianca. "Assim, foi possível vivenciar os sentimentos, especialmente aqueles que sempre são analisados de forma racional." A reclusão de três dias permitiu que a equipe mergulhasse em um processo de autoconhecimento para então encontrar em cada um alternativas para o relacionamento em crise de Marcela e Juliano. "Eu estava tentando resolver a vida dos personagens sem ter resolvido a minha", brinca Emílio Boechat. Helena Martins conta que uma pessoa só percebe que um relacionamento está doente quando já há uma clara frustração, que geralmente termina de forma sofrida. "Toda relação é uma conseqüência do indivíduo, por isso é muito mais fácil procurar as suas dificuldades e corrigir a relação do que começar outra." À medida que o texto progredia e atingia seu ponto final de maturação, Abílio Tavares desenvolvia a estrutura técnica da peça. A trilha sonora é composta, entre outras, por sete canções de Nando Reis. Aos cenógrafos e figurinistas Marco Lima e Leopoldo Pacheco, pediu roupas e um cenário que se modificasse à medida que o espetáculo progride, registrando as mudanças na relação do casal. "O cenário realista vai cedendo lugar a espaços simbólicos em que uma obra inacabada e um emaranhado de fios puxados pelo apartamento são o espelho daquela relação." Outra preocupação fundamental foi não transformar o texto em uma seqüência de problemas existenciais - para isso, o humor permeia todo o espetáculo, permitindo uma rápida interação com os espectadores. "Nosso objetivo é manter uma comunicação direta com o público", conta Gontijo, que releu diversos textos de Plínio Marcos na busca de elementos que facilitassem essa cumplicidade. "Plínio pregava a união dos homens ao criar personagens que buscavam melhorar sua auto-estima. No nosso texto, mostramos que o valor está no movimento de busca do casal." Serviço - Tudo de Mim. De Emílio Boechat e Petrônio Gontijo. Direção Abílio Tavares. Duração: 90 minutos. Sexta, às 21 horas; sábado, às 20 e 22 horas; domingo, às 20 horas. R$ 25,00 (sexta) e R$ 35,00. Teatro Folha. Avenida Higienópolis, 618, Piso 2 do Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo, tel. 3823-2323. Até 23/2

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