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Peça discute intolerância e solidão

Depois de temporada no Rio, chega a SP o espetáculo Norma, estrelada por Ana Lucia Torre e Eduardo Moscovis, que reflete sobre perdas, incompreensão e preconceitos

Por Agencia Estado
Atualização:

Norma é uma mulher de mais ou menos 50 anos, amargurada, que vive sozinha em um apartamento. Renato, por sua vez, é um jovem que ainda não chegou aos 30, ex-inquilino do imóvel, que resolve visitar o local em busca de boas lembranças. O encontro dos dois personagens, repleto de esperanças e frustrações, é o mote de Norma, peça de Dora Castellar e Tonio Carvalho, que também dirige os atores Eduardo Moscovis (no papel de Renato e responsável pela produção do espetáculo) e Ana Lúcia Torre (que vive Norma). A peça estréia hoje no Teatro Centro da Terra, em São Paulo, após curta temporada no Rio de Janeiro e um desempenho elogiado no último Festival de Teatro de Curitiba. Norma nasceu de um engano. "Um dia, o Tonio discou um número e caiu errado", conta Ana Lúcia. "E a mulher que estava do outro lado da linha soltou os cachorros. Tonio então ficou pensando que tipo de vida levaria essa pessoa para ter esse humor." O autor imaginou uma mulher em crise porque, em 50 anos de vida, jamais realizou um sonho, e tão rígida que foi batizada de Norma. O casamento, idealizado com um príncipe, faliu por ter sido feito com um homem real. O filho, para desespero da mãe preconceituosa, revelou-se gay. E quando, arrependida, tentou a reconciliação, o garoto morreu. Todos esses fatos são retratados por meio das lembranças de Norma. Renato, um jovem, bonito e atencioso, aparece quando a mulher está arrumando a casa, envolta em esses pensamentos. "É claro que ela acaba se apaixonando", diz Ana Lúcia Torre. Mas esse amor torna-se repulsivo quando Norma descobre que Renato, assim como o filho dela, é gay. "É a primeira vez que interpreto um homossexual. Sou heterossexual. Mas isso não importa. Não quis que a sexualidade se tornasse uma bandeira. A proposta não é ser um espetáculo gay. Esse é apenas mais um conflito entre os dois", afirma Eduardo Moscovis. A peça fala de solidão, perdas, intransigência, incompreensão e dos preconceitos que muitas vezes conduzem e determinam a conduta das pessoas de forma dolorosa e desumana. Vivendo num pequeno universo Norma só conhece regras rígidas, comportamento e atitudes estereotipadas, conceitos de almanaque e frases feitas. Até surgir Renato, alguém que será capaz de tirá-la do torpor, intimá-la a viver a urgência da vida e fazê-la encarar sua frágil ferocidade. "Acho interessante a escolha do nome do personagem, que remete à ´renascido´", diz Moscovis. Em Norma, é a segunda vez que o ator contracena com Ana Lúcia Torre. Há dois anos, eles estiveram juntos na montagem de Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri. Mais tarde, atuaram juntos na novela O Cravo e a Rosa, na Globo. "Agora vai ser uma loucura. Estou gravando Desejos de Mulher, no Rio, e continuo me apresentando em São Paulo", diz Moscovis. À exemplo da temporada carioca, é possível que haja ainda uma sessão às sextas, à meia-noite. "Não conversamos sobre isso ainda. Mas, se deu certo no Rio, é bem provável que, aqui em São Paulo, onde tem um público mais aberto ao teatro, a estratégia venha a dar certo", diz Ana Lúcia. Norma deverá seguir em cartaz no Teatro Centro da Terra até agosto. "Depois, pretendemos nos apresentar em outras cidades brasileiras", conta Moscovis. Norma, de Dora Castellar e Tonio Carvalho. Teatro Centro da Terra (Rua Piracuama, 19, Sumaré, tel 3675-1595). Sexta e sábado, às 21h30, domingo, às 18h. Ingressos: sexta e domingo, R$ 20; sáb, R$ 25.

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