Peça dirigida por Lázaro Ramos abre ciclo de dramaturgia negra

'Namíbia, Não!' entra em cartaz nesta quinta-feira, 29, no Teatro de Arena

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Por MARIA EUGÊNIA DE MENEZES - O Estado de S.Paulo
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Políticas afirmativas, cotas nas universidades, discussões sobre questões identitárias. O racismo está na pauta do dia. Mas nem sempre falar muito sobre um assunto significa deter-se efetivamente sobre ele. "Estamos em um certo estágio em que tudo já parece ter sido discutido e compreendido", acredita Lázaro Ramos. "A intenção era carregar o tema para outro lugar. Onde as pessoas ainda se permitam olhar para ele." Com Namíbia, Não!, espetáculo que entra em cartaz nesta quinta-feira, 29, no Teatro de Arena, o ator estreia na direção. E tenta reposicionar o viés pelo qual se trata da questão da discriminação. Escrita pelo intérprete e autor baiano Aldri Anunciação, a peça abre o ciclo Nova Dramaturgia da Melanina Acentuada. O projeto busca refletir sobre a atual dramaturgia de autoria negra no Brasil e deve se estender até abril. Na grade, estão propostos, além de espetáculos, uma série de leituras dramáticas, debates e palestras. Namíbia, Não!, que já cumpriu temporadas no Rio e em Salvador, tem sua ação localizada em um futuro próximo, no ano de 2016. Move o enredo uma situação que resvala no absurdo: um fictício decreto governamental que obriga a todos os negros do País a serem deportados de volta para a África. Como se assistíssemos, cinco séculos depois, a um revés do tráfico de escravos. "A gente fala muito do ponto de vista político, mas ainda esquece o lado do ser humano, a individualidade. Cada negro é um negro. Não dá para você dizer os negros assim. Existem experiências que nos aproximam, mas também individualidades que têm de ser levadas em conta", diz Lázaro Ramos. O texto recorre ao humor para expor as contradições e dilemas criados pelo tal êxodo forçado. Para conseguir escapar da perseguição, dois primos trancam-se dentro de um apartamento. Acreditam estar protegidos pelo artigo 150 do Código Penal, que resguarda a inviolabilidade do lar. No ambiente completamente branco e de ares futuristas, as paredes se mexem e intervenções em áudio e vídeo incluem a participação de artistas, como Luiz Miranda e Wagner Moura. O público acompanha a discussão entre os dois personagens, que assumem posturas antagônicas sobre o exílio. Aldri Anunciação vive Antônio, um advogado bem-sucedido que não aceita a ideia de ser forçado a ir embora do Brasil. No campo oposto está Flávio Bauraqui: ele interpreta André, um estudante de Direito entusiasta da proposta de retornar à África.NAMÍBIA, NÃO! Teatro de Arena Eugênio Kusnet. Rua Teodoro Baima, 94, Vila Buarque, 3259-6409. 5.ª a dom., 20 h. R$ 20. Até 17/2.

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