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Peça de Alcione Araújo volta ao cartaz 30 anos depois

Flávia Porchat, Martha Meola e Mila Ribeiro estréiam hoje Há Vagas para Moças de Fino Trato, em papéis que três décadas atrás foram de Glória Menezes, Yoná Magalhães e Renata Sorrah

Por Agencia Estado
Atualização:

Num momento em que a dramaturgia brasileira está em foco - leituras dramáticas de peças nacionais ocorrem em vários espaços da cidade -, louve-se a iniciativa da atriz Flávia Porchat, responsável por levar ao palco Há Vagas para Moças de Fino Trato, peça de Alcione Araújo. Afinal, tão importante como investir em nova dramaturgia é a redescoberta de bons autores. Marcelo Lazzaratto, diretor da montagem que estréia hoje no Teatro Crowne Plaza, acredita que essa peça, escrita na década de 70, não só resistiu ao tempo como merece uma atenta releitura. No elenco, Flávia, Martha Meola e Mila Ribeiro. Apesar de ser um autor premiado em teatro e cinema, Araújo não tem tido muitas peças encenadas recentemente. "Não sei porquê. É um grande autor nacional", observa Lazzaratto. "Ele ajudou a sedimentar a dramaturgia brasileira de viés político na década de 70." Mas esse viés sociopolítico é apenas uma das características de sua obra. "Em Há Vagas para Moça de Fino Trato, esse viés existe, mas a peça vai muito além. Na minha montagem - não vi as anteriores -, procurei privilegiar o caráter exemplar e universal das personagens." Na peça, a reprimida Gertrudes (Martha), a sonhadora Lúcia (Flávia) e a sensual Madalena (Mila) dividem um quarto de pensão. Numa leitura superficial, o conflito entre elas gira em torno dessas diferenças de comportamento. Indo um pouco mais fundo, vemos três mulheres, cada uma a seu modo, buscando afeto da forma mais desajeitada. Sem clareza dos próprios sentimentos, o máximo que conseguem é ferir a si mesmas. Vivendo em profunda solidão, têm em comum a incapacidade de estabelecer trocas afetivas. "Em minha concepção, evitei o excessivo realismo. Essas personagens representam, muito claramente, três forças femininas que coexistem numa única mulher", afirma. Humanista - Mineiro, Alcione Araújo vive no Rio desde 1978. Estará presente à estréia paulistana de Há Vagas para Moças de Fino Trato. "Por coincidência, há exatos 30 anos vim a São Paulo assistir à primeira montagem dessa peça." Dirigida por Amir Haddad, no elenco estavam Glória Menezes, Yoná Magalhães e Renata Sorrah. Artista de formação humanista - pós-graduado em filosofia -, Araújo transita com desenvoltura por diferentes áreas do conhecimento e das artes. Já foi premiado como roteirista de cinema, pelo filme Nunca Fomos tão Felizes, e como dramaturgo, entre outros um Molière por Muitos Anos de Vida. Ainda assim, está longe de ser um artista "badalado". Em seu escritório, um cartaz com o pensamento de Alceu Amoroso Lima ajuda a entender sua filosofia de vida: "Tudo em Minas se faz sem pressa. O tempo não conta. Fazem-se as coisas para durar, para permanecer, não para aparecer." Há Vagas para Moças de Fino Trato. 4.ª e 5.ª, às 21h. R$ 20. Teatro Crowne Plaza. R. Frei Caneca, 1.360, tel. 289-0985. Até 30/6.

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