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Peça "Caça aos Ratos" estréia no porão do CCSP

Personagem vivido por Alessandro Hernandez propõe à garota ?jogar no lixo? tudo o que atrapalha o verdadeiro conhecimento recíproco, de sapatos a idéias

Por Agencia Estado
Atualização:

Há uns caras estranhos por aí. Imagine topar com um que no primeiro encontro leva a garota para um lixão. Pois é exatamente o que faz o personagem vivido por Alessandro Hernandez na peça "Caça aos Ratos", que estréia nesta quarta-feira no porão do Centro Cultural São Paulo. Mais que isso, nesse local ele propõe à garota ?jogar no lixo? tudo o que atrapalha o verdadeiro conhecimento recíproco, de sapatos a idéias. Qual o limite desse jogo de desnudamento? O espaço não poderia ser mais adequado e o diretor Roberto Moretto tratou de aproveitar ao máximo a ?ambientação? naturalmente lúgubre do subsolo de cimento rústico e tubulação aparente do CCSP. O texto é do austríaco Peter Turrine - autor de peças encenadas em diferentes teatros europeus, entre eles o Berliner Ensemble. Moretto leu pela primeira vez esse texto há quatro anos, no curso de Estética Teatral, na ECA/USP, quando atuou numa montagem na ECA, cuja repercussão levou os estudantes a tentar estender a temporada ao circuito profissional, mas na época não foi possível. "Essa impossibilidade ficou engasgada", lembra Moretto. Frustração que ele tenta suprir, desta vez, no papel de diretor de sua companhia teatral O Grito - premiada pelos infantis "O Caso da Casa" e "Marujo Caramujo e Minhoca Tapioca". E, garante, com uma montagem diferente da anterior, a começar pela adaptações de espaço e tempo. "O próprio autor escreve que é importante mudar referências geográficas e culturais, mas como estudantes fomos muito respeitosos, não mudamos quase nada. Agora fomos mais ousados." Hernandez e Andrea Manna interpretam o casal desse inusitado encontro. Ele é mecânico e o diálogo dá a entender que trabalham na mesma empresa. Chegam até o lixão no carro dele, cuidadosamente preparado - um objeto que ele pensa conhecer e dominar, uma vez que desmontou e montou cada mecanismo, cada peça, cada parafuso. Já as mulheres... Propõe então um jogo de autoconhecimento. Ambos teriam a coragem de atirar no lixo tudo o que ?agregaram? à sua personalidade - dos ?sapatos de marca? aos cosméticos, do relógio ao dinheiro. Assim, despojados, imaginam que poderiam finalmente conhecer um a outro. "É um jogo de tirar as máscaras", diz Moretto. "Há algo de simbólico, claro, mas nessa primeira parte a ação é sempre em tempo real, no presente. Há unidade de tempo e ação, tudo acontece ali, naquela noite. Nas interpretações não cabe o psicologismo, não há uma gênese dos personagens, a gente não conhece a história da vida deles", diz Moretto. Mas... E sempre tem um mas... Em meio a esse jogo de suposta libertação, ele atira, com uma espingarda, nos ratos do lixão - representados, a pedido mesmo do autor, pelo público. "O grande achado desse texto é a guinada final." Acontece algo importante, que não pode ser contado sob pena de estragar a surpresa do público, no desfecho da peça, quando entram em cena Moretto e Ana Padovan. Uma cena curta, mas que leva o público a repensar tudo o que viu na parte inicial. A compreender, por exemplo, por que ele, o espectador, faz o papel de rato para os personagens. Mas que ninguém se preocupe - não há interação, só uma provocação que deve ressoar nas mentes ao fim do espetáculo. Caça aos Ratos. 60 min. 14 anos. Centro Cultural São Paulo - Porão (70 lug.). Rua Vergueiro, 1.000, Paraíso, 3383-3400. 3.ª a 5.ª, 21 h. R$ 10. Até 14/12

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