PUBLICIDADE

Peça "Antônio e Cléopatra" traz humor e tragédia

Encenado pela primeira vez no Brasil, espetáculo com Maria Padilha estréia neste sábado no Sesc Vila Mariana

Por Agencia Estado
Atualização:

A região é tão conflituosa que é conhecida como Faixa de Gaza, mas foi ali, entre as favelas de Vigário Geral e Parada de Lucas, no Rio de Janeiro, que a atriz Maria Padilha promoveu, em 2004, a leitura dramatizada do 30.º texto de William Shakespeare, "Antônio e Cleópatra". "Foi ótimo pois, como aquele público não está habituado ao teatro, houve vaias e risos em momentos inesperados que nos ajudaram a acertar o espetáculo", conta ela, que lidera um grande elenco da montagem dirigida por Paulo José e que estréia no Sesc Vila Mariana. Embora Shakespeare seja presença constante nos palcos brasileiros, "Antônio e Cleópatra" jamais ganhara uma montagem nacional. As explicações são diversas - texto muito grande e complexo, profusão de personagens (40, no original), música ao vivo. Por outro lado, é considerado um dos melhores trabalhos da fase amadurecida do bardo. Afinal, se "Romeu e Julieta" trata do amor entre adolescentes que não têm nada a perder e entregam a vida por um amor, "Antônio e Cleópatra" trata de uma paixão imensa, madura e da relação de poder. "A peça mostra como a identidade faz parte de uma relação amorosa", comenta Maria Padilha. "Quando uma pessoa abre mão de tudo e se despersonaliza deixa de ser atraente para o outro." A atriz também é produtora do espetáculo, que consumiu uma cifra normalmente acima das produções habituais: R$ 600 mil. "A intenção era apresentar um trabalho coeso e esse valor, apesar de considerado absurdo para alguns, teve uma aplicação justificada", conta Maria, que demorou para conseguir todos os patrocínios. Assim, quando o projeto se viabilizou financeiramente, boa parte do elenco já não estava mais disponível. "Por isso, reunimos um grupo menor e encontramos outra solução", conta Paulo José, que cuidou da adaptação ao lado de Geraldo Carneiro, autor da tradução. "Respeitamos o estilo clássico de Shakespeare, mas adotamos diálogos mais próximos do nosso cotidiano." Assim, os cortes e adaptações permitem que as fascinantes complexidades de Shakespeare ressoem como atuais. A relação de dominação que os Estados Unidos mantêm hoje é semelhante à posição de Roma na época antiga. "A guerra preventiva promovida por George W. Bush é a mesma que Júlio César incentivou, assim como a capacidade de destruição das belezas do Oriente", comenta Paulo José que, para compensar o elenco enxuto, criou a figura de um coro que narra as ações paralelas. O humor também está presente. "Há lugar para o cômico e para o trágico", observa Maria Padilha, atriz afiada em provocar risos. Mas, ao contrário da graça gratuita que marca muitas montagens, em "Antônio e Cleópatra" o riso vem carregado de significados. "Aqui, o humor traz a intenção do trágico", avisa Paulo José. Antônio e Cleópatra. 120 min. 12 anos. Sesc Vila Mariana - Teatro (608 lug.). Rua Pelotas, 141, (11) 5080-3000. 6.ª e sáb., 21 h; dom., 18 h. R$ 30. Até 22/10

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.