Peça aborda drama de casal refugiado

Texto mundialmente premiado, A Besta na Lua focaliza a relação de um casal sobrevivente do genocídio armênio, no início do século 20. Estréia em SP

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Por Agencia Estado
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A montagem no Brasil de A Besta na Lua (expressão usada pelos turcos para referir os eclipses lunares) já nasce com uma responsabilidade. Trata-se de um texto mundialmente premiado, do dramaturgo Richard Kalinoski. A atriz e produtora Beatriz Sayad (ex-Teatro Sunil), o ator Ricardo Napoleão e a diretora Maria Taís, à frente da companhia Balagan, se uniram para a montagem de um drama que aborda a relação de um casal armênio refugiado, sobrevivente do genocídio armênio no período entre a 1.ª e a 2.ª Guerra Mundial. No elenco, além de Sayad e Napoleão, estão o ator convidado Walter Breda e Thomas Jorge, de 12 anos, que interpreta o filho do casal. A temporada será de sete semanas no Sesc Belenzinho. "A narrativa recupera os laços da tradição", atesta a diretora Maria Taís. Ela tem início em 1921, quando Aram Tomasian, fotógrafo que perdeu os pais chacinados pelos turcos e já morando nos EUA, recebe em casa sua nova esposa, a adolescente Seta. Ele escolhera a moça por foto e negociara sua ida ao novo país, por correspondência. Por confusão na negociação, descobre-se que Seta não é a moça da foto. Esse incidente antecipa um maior: sua impossibilidade de gerar filhos. A peça, por meio de cenas cotidianas, delicadas, retrata as tentativas do casal de ter filhos, em meio a ritos da cultura, e sua adequação à realidade imposta, o que os obriga a adotar uma criança italiana. "Hoje, os fatos vividos por Aram e Sete atraíram mais a atenção da mídia do que em 1915-1921", diz Richard Kalinoski, que atendeu à reportagem do Estado por e-mail. Para o autor, a influência dos ideais democráticos e dos costumes ocasionaria o divórcio do casal, mas "felizmente, Seta consegue acompanhar Aram e torna o casamento suportável". O autor salienta que escreveu uma história de amor para ser representada em espaços intimistas. Trata-se de um texto realista, que a diretora Maria Taís (Sacromaquia) traduz em simbolismo. Com o cenógrafo Marcio Medina, chegou a uma ambientação que usa os recursos do mínimo: um tapete e quatro molduras em madeira de diferentes tamanhos, que, juntas, também remetem à idéia de uma câmera fotográfica antiga. Para Beatriz Sayad, a diferença entre Seta e Aram é que "ela celebra a vida, a sobrevivência individual, enquanto ele acredita que a celebração da vida passa pela manutenção da tradição". Beatriz continua: "Mas ambos serão obrigados a transformar seus pontos de vista para que se possa continuar celebrando a vida."

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