Paulo Coelho lança "A Bruxa de Portobello"

Chega às livrarias do País nesta quarta-feira o novo livro do escritor, que já tinha disponibilizado os primeiros capítulos em seu blog

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Por Agencia Estado
Atualização:

Ao longo dos últimos meses, o escritor Paulo Coelho participou de uma experiência inédita em sua carreira: os primeiros capítulos de seu novo romance, "A Bruxa de Portobello", foram divulgados aos poucos em um blog, permitindo que a legião de fãs desfrutasse um aperitivo. O efeito, como era de se esperar, foi tremendo: dezenas de acessos (mesmo com o texto disponibilizado apenas em português), comentários diversos e reações que surpreenderam o escritor, anunciando uma nova procura imensa pelo livro, que chega às livrarias do Brasil e de Portugal na quarta-feira. "Foi uma surpresa fantástica, que comprovou como a internet se tornou um território obrigatório para o escritor dividir seu trabalho com o leitor", comentou o escritor. Coelho estava na Espanha, onde conversou com os jornalistas sobre "A Bruxa de Portobello". Amanhã, estará em Portugal, iniciando um processo de lançamento que, até o dia 19 de outubro, vai atingir quase todos os países de língua portuguesa e espanhola. A obra marca também o início de seu relacionamento com a editora Planeta, que no Brasil, além do novo romance, já mandou para as livrarias dez outros livros com novo trabalho visual. Os números são mantidos em segredo, mas acredita-se que atingirão patamares estratosféricos - afinal, em 20 anos de carreira literária, Paulo Coelho já vendeu cerca de 75 milhões de exemplares no mundo inteiro. Com "A Bruxa de Portobello", o escritor recupera seu vigor literário, que sofreu um arranhão com a obra anterior, "O Zahir". A partir de uma pluralidade de vozes, o livro conta a história de Athena, garota adotada por imigrantes libaneses que se estabeleceram na Inglaterra depois de fugir de uma guerra que assolava seu país natal. Mas, mesmo instalados em uma sociedade democrática, eles têm de enfrentar a intolerância religiosa que se assemelha à existente nos tempos da Inquisição, quando os que eram considerados hereges pela Igreja Católica eram violentamente punidos, inclusive queimados vivos. "Busquei apresentar o retrato das pessoas que pagam alto por serem apontadas como diferentes pela sociedade que as rodeia", comenta Coelho. "Na verdade, acredito que vivemos sob os estertores de uma época, aquela em que a intolerância vem crescendo de forma preocupante, o que poderá ser o próprio causador das grandes mudanças." Com "A Bruxa de Portobello", o autor trata de questões delicadas, como as que envolvem a fé, assim como o papel da mulher na família, a mídia, as relações entre pais e filhos. "O mundo se apresenta como um espelho para um escritor, daí minha empolgação em escrever essa história", observa Coelho, que não preparou todas as etapas do enredo. A conclusão, aliás, surgiu durante a noite, quando acordou com a idéia pipocando na cabeça. "Imediatamente, registrei os principais aspectos no computador e trabalhei melhor nos dias seguintes." A leitura antecipada pelos leitores por meio da internet também rendeu polêmicas. Especialmente o oitavo capítulo, que narra o episódio em que Athena, recém-separada, vai à Igreja para tomar a comunhão. Como ela se divorciou, o padre lhe nega a hóstia. Foi o suficiente para provocar um enorme debate, incentivando o próprio escritor a participar. "Estou tendo o presente de receber de volta reflexões precisas a respeito do que penso e escrevo", anotou ele. "Isso tem gerado mais reflexão de minha parte, e mais adiante, uma das colunas que publico em jornais do mundo inteiro irá dar espaço ao pensamento do leitor " Os internautas aproveitavam também assuntos pontuais para misturarem com as discussões sobre o livro - foi o que aconteceu, por exemplo, quando o papa Bento XVI provocou a ira dos adeptos do Islã. "Isso tudo me convenceu a criar um portal especial para mim, que deverá estar pronto em um mês." Todo esse caldeirão fervilhante serviu também como um excelente plano de marketing para o lançamento de "A Bruxa de Portobello", que chegará às livrarias com um preço mais acessível que o habitual: R$ 19,90. E também com uma capa provocativa, em que a mão de uma criança acaricia o seio. "Lutei muito para a permanência dessa fotografia, que considero de extrema sensibilidade. Só lamento que não deverá permanecer na edição a ser lançada nos Estados Unidos, país onde o moralismo é grande e onde, certamente, seria possível há 20 anos." Coelho comentou ainda a censura decretada pelo governo do Irã contra algumas de suas obras. "Isso comprova que a radicalização é cada vez maior e revela o declínio de um sistema", disse ele, que ainda não planeja ambientar uma história no Brasil. "Jorge Amado já fez isso maravilhosamente bem."

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