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Paulo Coelho e Hélio Jaguaribe disputam vaga na ABL

A eleição para a cadeira de número 21, da Academia Brasileira de Letras (ABL), na quinta-feira, polariza os imortais entre o escritor popular e o consagrado sociólogo

Por Agencia Estado
Atualização:

A eleição para a cadeira de número 21, da Academia Brasileira de Letras (ABL), na quinta-feira, vai contrapor a literatura consagrada pelo público de Paulo Coelho à obra, festejada pela intelectualidade, do sociólogo Hélio Jaguaribe. Embora existam 12 candidatos, os dois polarizam a disputa, cujo resultado ainda parece incerto: os 38 imortais estão igualmente divididos sobre quem ocupará a vaga que foi do economista Roberto Campos. A campanha não terminou e, como disse o ex-presidente Juscelino Kubitschek, ao perder a imortalidade por um voto nos anos 1970, "é mais fácil concorrer à presidência lá fora do que a uma vaga aqui dentro". Quem conta a história é o acadêmico Marcos Madeira, que não declara o voto, mas indica o dilema dos imortais. "Vamos escolher entre o mais votado no mundo e o mais votado na Academia. Os dois merecem nosso voto. O Jaguaribe tem uma obra consistente como sociólogo, enquanto o Paulo Coelho tem uma consagração transatlântica", comenta Madeira. "Se a Academia preterir Coelho, vai causar perplexidade no mundo inteiro, inclusive na França, onde ele é conceituado por acadêmicos de lá. Não podemos dar as costas a esse fato, mesmo que nosso gosto pessoal não concorde com o estilo dele." De volta ao Rio, para a campanha pela imortalidade, depois de correr o mundo na esteira dos 41 milhões de livros que já vendeu, Paulo Coelho não acredita que a escolha seja entre a popularidade e o prestígio. "A disputa na Academia se caracteriza pelo amplo leque de escolhas e estou competindo com um candidato da maior qualidade, com uma ampla folha de serviços ao Brasil", diz ele. Coelho cumpriu o ritual de visitar os acadêmicos e cita o apóstolo São Paulo, fundador da Igreja Católica, para falar de seu estado de espírito."Combati o bom combate. Mas o melhor foi ter conhecido pessoalmente pessoas que admirava de longe, como Evandro Lins e Silva, João Ubaldo Ribeiro (que não declararam o voto), Josué Montello e Oscar Dias Correa." Jaguaribe acredita ter os 20 votos necessário à vitória, mas reconhece que Coelho tem mais visibilidade. "Afinal, até em países como o Irã, onde estive recentemente, é o único autor brasileiro na vitrine das livrarias", conta. Ele contabiliza entre seus eleitores Celso Furtado, Cândido Mendes, Alberto Venâncio Filho e Afonso Arinos. "Minha obra comporta números muito mais modestos, porque as ciências sociais têm público restrito. Mas não sei se os livros de Paulo Coelho são, para os acadêmicos, o paradigma da literatura brasileira. Só evito imprimir à eleição o caráter de comício ou conspiração contra ou a favor de alguma coisa." Fundada pelo abolicionista e republicano José do Patrocínio, a cadeira 21 não tem proporcionado eleições tranqüilas. Em 1991, quando o dramaturgo Dias Gomes substituiu o escritor Adonias Filho, quase houve unanimidade, mas a eleição de Roberto Campos, em 1999, lembrou a batalha do Petit Trianon, descrita por Jorge Amado em Farda, Fardão, Camisola de Dormir. Campos, que se orgulhava de ser um pensador da direita substituiu o autor de O Pagador de Promessas, que se colocava como legítimo representante da esquerda. Prevaleceu a pluralidade e, já na posse do economista, as desavenças pareciam sepultadas. O ex-presidente da ABL, Arnaldo Niskier, cabo eleitoral declarado de Paulo Coelho, explica sua posição. "Ele retirou a candidatura à vaga do Jorge Amado quando a Zélia Gattai se inscreveu e, por isso, assumimos o compromisso moral de lhe dar o voto", afirma. "Eleição se decide no plenário e esta, apesar da dramaticidade, não é uma disputa entre gêneros ou estilos literários, mas entre personalidades. Vamos escolher que tipo de pessoa teremos no nosso convívio nos próximos anos, qual é mais afável e quem enriquecerá nossas reuniões." Só idéias - Alberto Venâncio, cujo voto é considerado certo por Jaguaribe, acredita que a balança pende para um dos lados, que não nomeia. Ele insiste na velha fórmula de que eleição se decide na hora e promessa não imortaliza ninguém. "Cada um vota de acordo com a sua consciência, pensando no melhor para a Academia", adianta. "Aqui, não há campanha nem cabos eleitorais, só as idéias e convicções de cada eleitor." Marcos Madeira sugere uma solução que contempla os dois lados, no melhor estilo da antiga política do PSD mineiro. "Ambos merecem a Academia e os dois enriquecem o nosso convívio. No entanto, temos de pensar na repercussão que haverá no mundo inteiro se nosso autor mais conhecido não se tornar acadêmico", observa. "Então, por que não eleger Paulo Coelho agora e, na próxima oportunidade, trazer para a Casa de Machado de Assis o outro, que tem uma obra importante, embora não tão conhecida pelo público?" Se aceita, a proposta enterra as esperanças dos outros dez candidatos, ao menos nos próximos pleitos. Entre eles, há nomes conhecidos como a escritora Laurita Mourão (filha do general Olímpio Mourão Filho, líder do golpe militar de 1964 e escritora de romances erótico-biográficos), o poeta Waldemar Cláudio dos Santos (que se tem candidatado, sistematicamente, nas últimas eleições), Júlio Romão da Silva, Amil Alves, Felizbelo da Silva, Carmine Antônio Filho, José Luiz Ferreira Prunes, Paulo Hirando, Marilena Salazar e Otávio Mamede Júnior. "Isso comprova o prestígio da Academia", costuma dizer o ex-presidente Tarcísio Padilha. "Afinal, todos querem essa láurea e, pelo regulamento, basta ser brasileiro, maior de 18 anos e autor de um livro, ou qualquer coisa definida como tal."

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