Paulo Coelho defende internet e diz que livro vai durar muito

Escritor brasileiro foi convidado a fazer o discurso inaugural da Feira de Livros de Frankfurt, a maior do mundo

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Por EFE
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O escritor brasileiro Paulo Coelho, 61, elogiou nesta terça, 14, as possibilidades que a internet abre à literatura e pediu que as editoras não vejam os novos meios como uma ameaça, se mostrando convencido de que o livro impresso durará pelo menos mais mil anos. Para o escritor, a internet tem o potencial de alavancar a indústria do livro ao contrário do golpe quase fatal que deu na indústria da música.   Veja também: Paulo Coelho pede que ministro da Cultura devolva convite     Em discurso durante a entrevista coletiva de abertura da 60.ª edição da Feira do Livro de Frankfurt, Paulo Coelho contou suas experiências na web e também comparou as repercussões da revolução digital com a da época na qual Gutenberg, que inventou os tipos móveis, que deram um grande impulso à imprensa.   A Feira de Frankfurt é a maior do gênero no planeta e reúne a partir desta quarta, 15, editores de todo o mundo em ampla negociação de direitos autorais. Neste ano, o país homenageado da feira é a Turquia, que será representada por Orhan Pamuk, prêmio Nobel de Literatura de 2006, entre outros.O escritor brasileiro foi convidado para participar da abertura do evento e receberá amanhã o diploma oficial do Guinness Book como o auor vivo mais traduzido mundalmente.     Coelho,  autor de O Alquimista e Onze Minutos, comemora na feira alemã a marca de 100 milhões de livros vendidos no mundo e está ganhando reputação de pioneiro digital, graças a sua adesão entusiasmada às mídias online. "Nós devemos à nova técnica de impressão o fato de tornar possível a troca de idéias e refazer o mundo de acordo com estas idéias", declarou o autor de A Bruxa de Portobello lembrando a invenção de Gutenberg.   Paulo Coelho vê a evolução dos últimos dez anos - com o surgimento da internet e de novas plataformas para a difusão de idéias - como uma radicalização do processo de "democratização das idéias" iniciado por Gutenberg.   "Pouco a pouco as pessoas tomam consciência de que podem divulgar o que quiserem na rede, onde todos podem ver, e que são seus próprios diretores de programa", declarou.   Na internet "as pessoas trocam sem custos tudo aquilo que é importante para elas e esperam que isto também seja possível com os produtos de comunicação de massa", o que é crucial para as indústrias relacionadas ao mundo da cultura.   Web e música   O escritor brasileiro se mostrou convencido de que a indústria da música teve uma reação inicial equivocada e, ao invés de ver as possibilidades da evolução que estava vivendo, tentou impedi-la por meio dos tribunais.   "Em 2001, conseguiram fazer com que o Napster e outros sites fossem fechados. Tinham vencido uma batalha, mas não a guerra. Não podiam impedir que surgissem outros Peer-to-Peer que mantiveram hasteada a bandeira da troca gratuita", declarou.   O escritor considera que, ao invés de recorrer a advogados, a indústria da música deveria ter procurado outra solução como, por exemplo, pedir o pagamento de 5 centavos por música baixada da internet.   "Por volta do ano 2000, ninguém teria um problema com isto, entre outras coisas porque os custos teriam sido muito menores do que os de um CD", explica.   O setor editorial parece, segundo Coelho, mais "protegido" da internet do que a indústria da música ou a indústria cinematográfica, e isto se deve em boa parte à evolução tecnológica, que traz mais vantagens do que outros meios.   Entre outras, a internet é um meio que tem a ver com a leitura e a escrita, e isto fez as editoras registrarem com alegria um renascimento da comunicação e a expressão escrita nos anos 1990.   No entanto, Paulo Coelho afirma que, até o momento, a atitude do setor industrial frente à internet tem muita incompreensão e falta de acordo.   "Lamentam a 'desgraça' de outros setores e vêem a internet como um inimigo. No século 16, os monges que copiavam seus pergaminhos provavelmente tiveram a mesma atitude ante os livros impressos", declarou.   Para o escritor, a internet é, antes de tudo, uma possibilidade de difusão e um caminho para aumentar o número das pessoas que não lêem os textos apenas pela internet, mas que acabam, cedo ou tarde, recorrendo ao livro impresso.   Paulo Coelho fala do tema a partir de sua própria experiência. Em 1999 seus livros enfrentavam sérios problemas de distribuição na Rússia, mas quando apareceu uma cópia pirata digital de O Alquimista - que ele mesmo acabou reproduzindo em seu site - as vendas dispararam.   "No primeiro ano as vendas passaram de mil para 10 mil exemplares, no segundo subiram para 100 mil e um ano depois tinha vendido 1 milhão de livros", declarou.   Esta experiência o levou a disponibilizar alguns de seus livros, em formato digital, para seus leitores. Após uma fase de incompreensão das editoras, uma delas, a americana Harper Collins, se deu conta das  possibilidades dessa experiência e, desde o começo do ano, publica na web alguns de seus títulos.   "O tempo dirá como vou recuperar o dinheiro que invisto no projeto. Mas invisto em algo pelo qual qualquer escritor do mundo ficaria agradecido: um grande número de leitores para minhas obras", declarou o autor de Ser Como o Rio que Flui.

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