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Paulo Betti traz a SP peça de Flávio Márcio

O Homem Que Viu o Disco Voador é um dos textos inéditos do dramaturgo morto em 1979, aos 34 anos. Sucesso no Rio, montagem testa agora a platéia paulista

Por Agencia Estado
Atualização:

Se colocado contra a parede qual a sua escolha? O feijão ou o sonho? Lutando arduamente pela sobrevivência, enredado nas tarefas do dia a dia, a maioria dos mortais não tem tempo para pensar sobre isso. Mas é justamente esse dilema que vive o personagem interpretado por Paulo Betti na peça O Homem Que Viu o Disco Voador, de Flávio Márcio, que estréia amanhã no Teatro Augusta, depois de bem-sucedida temporada no Rio, onde Betti e o diretor Aderbal Freire-Filho receberam indicações para os prêmios Shell e Governador do Estado. O espetáculo tem concepção de Freire-Filho e no elenco estão ainda Vera Fajardo, Paulo Giardini, Hebe Cabral e Rodolfo Mesquita. A trama central da peça gira em torno de um homem que vê, subitamente, pousar no seu quintal um disco voador. Até então ele é um bem-sucedido executivo, mas tudo começa a mudar em sua vida a partir do momento em que as pessoas com as quais convive, sua mulher, o filho, os amigos e colegas de trabalho duvidam de sua história. Mesmo sua posição social começa a ficar ameaçada. "No momento em que pousa o disco voador - que ele vê pela janela da sala - sua mulher (Vera Fajardo) está falando com uma amiga ao telefone. Fala de banalidades, mas fica incomodada com a interrupção", diz Betti. O ator ressalta o absurdo da situação: um disco voador pousa no seu jardim e você não vê e não presta atenção na expressão atônita de quem viu, simplesmente porque sua atenção, naquele momento, está totalmente concentrada na roupa que vai usar na festa do dia seguinte ou algo tão banal quanto! "O disco voador é uma metáfora nesse texto, cujo tema é na verdade essa divisão entre vida prática e sonho, que faz parte da vida de todos nós", diz Betti. Na peça, o disco voador serve para detonar uma série de acontecimentos, começando por obrigar esse homem a rever seus valores, a perceber quanto ele se distanciou de coisas essenciais, como a sua relação com a mulher e com o filho, enquanto investia na carreira e na ascensão social. Nesse Brasil que não prima pela preservação da memória, talvez poucos ainda se lembrem do dramaturgo e jornalista Flávio Márcio, que foi um autor reconhecido a seu tempo e morreu em 1979, aos 34 anos, de complicações após uma simples operação de amídalas. Entre outras peças, ele é o autor de Réveillon, cuja montagem dirigida por Paulo José em 1975, com Regina Duarte no elenco, fez estrondoso sucesso de público. Mineiro de Juiz de Fora, veio para São Paulo em 1979, onde passou a trabalhar no Jornal da Tarde. Coincidentemente, ele foi "descoberto" como autor teatral por Freire-Filho que, em 1973, tentou encenar uma de suas primeiras peças, À Moda da Casa, mas foi impedido pela censura. Na época, ambos eram jovens artistas em início de carreira. Pouco depois dessa tentativa frustrada, Freire-Filho tentou "arrancar" Réveillon das mãos de Flávio Márcio. "Meticuloso, ele não se contentava com o primeiro fluxo de inspiração. Revia, reescrevia e nunca estava satisfeito", lembra Freire-Filho que só tem elogios ao talento do autor. "Réveillon é talvez a melhor peça pós-rodriguiana." Ao morrer, Flávio Márcio deixou algumas peças inéditas, o que era de se esperar de um autor que resistia em "soltar" os seus textos, entre elas O Homem Que Viu o Disco Voador. O que surpreende é que tenha sido tão pouco encenado desde então. "Sua linguagem é poética, bonita e ele equilibra com muito talento humor e drama", observa Paulo Betti. Foi a irmã de Flávio Márcio quem levou o texto a Vera Fajardo para que integrasse o Ciclo de Leituras Dramáticas promovido todos os anos na Casa da Gávea, espaço criado e dirigido por Betti e Fajardo entre outros sócios e artistas. Vera apaixonou-se pela peça e decidiu realizar a montagem. O Homem Que Viu o Disco Voador. De Flávio Márcio. Direção Aderbal Freire Filho. Duração: 90 minutos. Sexta, às 21h30; sábado, às 20 e 22 horas; domingo, às 19 horas. R$ 25,00 (sexta); R$ 30,00 (domingo) e R$ 35,00 (sábado). Teatro Augusta. Rua Augusta, 943, São Paulo, tel. 3151-4141. Até 24/3.

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