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Paul Auster, dez anos para escrever "A Noite do Oráculo"

Por Agencia Estado
Atualização:

A entrevista coletiva do escritor norte-americano Paul Auster foi a mais concorrida da segunda edição da Festa Literária Internacional de Paraty, que termina hoje. A razão é evidente: Auster representa para a literatura americana contemporânea um papel que pertenceu a Faulkner no passado. Bem, Auster ainda não é Faulkner, mas sua popularidade ultrapassou a barreira das letras e chegou ao cinema, em que se aventurou até como diretor (ele dirigiu "Lulu", uma adaptação da história de Frank Wedekind e da ópera de Alban Berg). Lançando "A Noite do Oráculo" (Companhia das Letras), o autor negou que seu personagem Sidney Orr seja um alter ego. Até onde se lembre, jamais confundiu sua atividade de escritor com a de oráculo, nem encontrou, como Orr, um caderno português mágico na papelaria de um chinês. No livro, o jovem escritor, doente, quase morre. Ao retomar a carreira, antecipa o futuro em seus textos com a ajuda de uma força sobrenatural. Auster não identifica nenhum colaborador invisível quando escreve, mas admite que convive com os "fantasmas" de seus personagens. "A Noite do Oráculo", revela, exigiu muito tempo para ser escrito. Mais exatamente, dez anos. O livro começa numa manhã de setembro, em 1982, quando Orr descobre a papelaria do chinês. Entre idas e vindas, sua vida move-se no território do indiferenciado, entre futuro e passado, enfrentando, além da doença, uma crise conjugal. Mais uma vez, nenhuma relação entre Sidney Orr e Paul Auster. Seu casamento com a escritora de origem norueguesa Siri Hustvedt vai bem, segundo ele. Siri também está em Paraty, lançando "O Que eu Amava" (Companhia das Letras). Auster define o livro da mulher como uma öbra-prima". Ele é generoso com a literatura alheia. Leu "Budapeste", de Chico Buarque, e definiu sua sintaxe como "bastante original". O Brasil retribui, concedendo especial atenção a seus livros. O cineasta Hector Babenco ("Carandiru"), em Paraty, andou conversando com o escritor sobre a possibilidade e adaptar uma de suas obras, mas, segundo Auster, nenhum contrato de adaptação para o cinema foi fechado. "Somos velhos amigos e há anos Babenco vive dizendo que quer adaptar "Palácio da Lua"´. Auster tem uma relação complicada com o cinema. Torce o nariz quando diretores solicitam alterações no roteiro de seus textos originais. "Digo que não posso mudar meus personagens e eles retrucam, dizendo que eu sou o autor e tenho poder de vida e morte sobre eles, mas não posso mudar o que foi escrito". Os cineastas, invariavelmente, repetem em coro: "´Claro que você pode, é o autor". Auster ri. Diz que nunca relê seus romances, preferindo ler os colegas. "´É gozado, porque às vezes, ao escrever uma frase, fico com a impressão de que já a escrevi antes". Falando sobre os atentados terroristas do 11 de setembro em Nova York, o escritor disse que não pretende produzir nenhum livro a respeito. Escreveu, sim, um artigo sobre a tragédia, em 2001, a pedido do seu editor alemão. "É prematuro dizer o que vai acontecer daqui para a frente, mas devemos reconsiderar nossa relação com outras culturas, tentar entender melhor o que se passa fora do Ocidente". O presidente norte-americano George Bush, segundo ele, "cometeu um erro após o outro´´ no combate à ação dos terroristas, observou.

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