Em grego, Tékhne quer dizer arte e destreza, mas como título da exposição que está em cartaz na Faap, a palavra remete ainda à vertente de criação artística que se vale da tecnologia, seja a de décadas remotas - e por isso, obsoletas -, ou a de hoje, em obras de artistas novatos e consagrados. Foi esse o viés que a curadora Denise Mattar escolheu refletir quando convidada a realizar uma mostra comemorativa dos 50 anos do Museu de Arte Brasileira (MAB) da Fundação Armando Álvares Penteado - desde a década de 1960, a instituição recebe ou promove eventos do segmento do que poderia ser considerada arte tecnológica.Sendo assim, Tékhne tem um percurso cronológico, começando pelo ano de 1964, quando ocorreu na mesma Faap a mostra A Instabilidade, do Grupo de Pesquisa de Arte Visual, em que o destaque era a peça Lumière en Mouvement, do argentino Julio Le Parc. Depois, o espectador é levado a descobrir ou rememorar a famosa exposição Arteônica, de 1971, concebida pelo artista Waldemar Cordeiro (1925-1973). "A primeira exposição de arte e tecnologia que foi um marco mundial ocorreu em 1969 nos EUA e dois anos depois já existiu essa de Cordeiro na Faap em que participaram 104 artistas", conta Denise Mattar, que levou um ano e meio em pesquisas e ainda convidou a curadora Christine Mello para ajudá-la na concepção da exposição.Efervescência. As décadas de 1970 e 80 foram especiais na história da Faap, tanto pela presença de professores como Júlio Plaza (1938-2003), Regina Silveira e Walter Zanini, que promoveu uma ligação direta da instituição com a Bienal de São Paulo (foi curador das edições do evento de 1981 e 1983 e ainda diretor do MAC-USP).Esse momento está representado por resgates interessantes, como a reconstituição da mostra O Objeto na Arte - Brasil Anos 60, de 1978, organizada por Daisy Peccinini. "Todas as obras criadas pelas chamadas novas mídias eram encaixadas nos salões na categoria "objeto" e essa exposição tratava dessa questão", afirma Denise. A tecnologia ainda é incipiente, mas as curadoras reuniram interessante seção de videoarte com obras de Anna Bella Geiger e Analivia Cordeiro , entre outros. Destaque ainda, no núcleo histórico, para as holografias de Moysés Baumstein (1931-1991).Contemporâneos. Por fim, a mostra adentra nas mais recentes criações em que o destaque é a instalação Pedra-Luz, da veterana Amélia Toledo, de 82 anos. Em um colchão redondo em que são projetadas imagens de pedras, o espectador se deita, se cobre e se vê, por meio de espelho no teto, em meio a uma cena surreal e terna. O núcleo ainda apresenta obras de Ana Maria Tavares, Luiz Duva, Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti, chegando ao trabalho Expanded Eye, escultura interativa em nossos olhos se multiplicam, peça criada pela mais jovem artista da mostra, Anaisa Franco, de 29 anos.