
22 de dezembro de 2013 | 02h09
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Será que a reforma política sai este ano?
- Sai. Passadas as festas nos dedicaremos a... Espera um pouquinho. Passadas as festas não vem o carnaval?
- Vem. E depois vem a Copa do Mundo.
- Ai, ai, ai. Acho que ainda não vai ser este ano.
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Outra fragmentação do tempo muito popular no Brasil é o minutinho. Estranhamente, o minutinho não é um minuto que passa mais ligeiro do que os outros. Ao contrário: como o seu sinônimo "dois segundinhos", passa mais lentamente. Em geral "um minutinho" não quer dizer um minuto pequeno. Dependendo da entonação, quer dizer "tenha paciência" ou "não me irrite". Como em:
- Senhorita, eu estou esperando há meia hora...
- Um minutinho.
- Não posso esperar mais.
- Um minutinho, por favor.
- Quando é que vão me atender?
- Em dois segundinhos.
- Não! Dois segundinhos não!
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Passadas as festas teremos mais tempo, mais disposição, talvez até melhor caráter. As próprias festas vão nos regenerar, seremos outros depois das festas. O Natal trará à tona os nossos melhores sentimentos. Danem-se as evidências, a humanidade tem jeito sim. O homem é bom. A mulher é melhor ainda. O sarrabulho do peru nem se fala. O Papai Noel pode ser falso, mas a emoção é verdadeira. E no ano-novo? Nos abraçaremos como se só estar vivo já fosse motivo para a comemoração. Ainda não morremos, oba! E estaremos cheios de planos. Este ano vou largar o cigarro, a bebida, o hábito de limpar os ouvidos com uma tampa de Bic e todos os meu preconceitos. Lerei mais, irei mais ao cinema, carregarei velhinhas para o outro lado da rua mesmo que elas não queiram - tudo isto passadas as festas. O próprio País melhorará, passadas as festas. Faremos todas as reformas necessária. Acabaremos com a miséria e a corrução. Seremos...
Espera um pouquinho. Acho que isto foi o que eu escrevi no ano passado.
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