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Parlapatões recriam humor de "Pantagruel"

O grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões evocam a aventura cômica de Pantagruel, novo espetáculo do grupo para comemorar dez anos de carreira

Por Agencia Estado
Atualização:

Donos de um humor politicamente incorreto, que visa religar o homem à sua natureza imperfeita, os criadores e integrantes do grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões evocam a aventura cômica de Pantagruel, novo espetáculo do grupo para comemorar dez anos de carreira. Inspirado na obra maior de François Rabelais (1494-1553), autor renascentista que fez o maior compêndio sobre o riso e a cultura popular em seu tempo, o texto criado pelo ator Hugo Possolo em parceria com o dramaturgo Mário Viana nasceu de dois anos de pesquisas, a partir de 1999, em que resultaram as peças Mistérios Gulosos, Um Chope, Dois Pastel e Uma Porção de Bobagem, de Mário Viana; Água Fora da Bacia, de Avelino Alves; Poemas Fesceninos e Os Mané, do próprio Possolo. A nova montagem dos Parlapatões percorre a trajetória do gigante Pantagruel (que retrospectivamente simboliza a própria grandiosidade do Humanismo nascente). Filho de Gargântua, rei de Utopia, Pantagruel sai em busca da sabedoria para ser digno de retomar o reino invadido pelos sorbonistas (racionalistas). "A peça não segue o roteiro, mas cumpre a essência do livro. Nos baseamos na estrutura do quarto volume, que conta uma aventura de Pantagruel por diversas ilhas. Selecionamos algumas dessas aventuras para integrá-las ao nascimento, adolescência e vida adulta de Pantagruel", explica Mário Viana, que além de dramaturgo premiado em peças cômicas como Vestir o Pai e Flechadas do Teu Olhar, é jornalista e editor do suplemento Viagem, do Estado. "O público que assistir Pantagruel vai perceber porque fizemos os outros espetáculos", afirma o ator, autor e diretor Hugo Possolo. "Há uma ligação temática entre as cinco peças anteriores, nas quais os temas foram sexo, escatologia, gula, adultério e tempo e o novo espetáculo. Principalmente sexo, escatologia e fome formam a raiz de tudo o que é farsesco, pois são os instintos básicos do homem e a base do conhecimento do grupo", completa Possolo. Treinamento - Da farsa e do grotesco vivem os Parlapatões, que em dez anos de carreira esbanjaram o que têm de palhaço e o que conhecem de circo, em espetáculos de sucesso e premiados como Nada de Novo, Parlapatões, Patifes & Paspalhões, U-Fabuliô, ppp@wllmshkspr.br e Sardanapalo. Junto com Passolo, a trindade cômica é completada por Alexandre Roit e Raul Barreto. O grupo produziu 18 espetáculos em 10 anos, fez 2.000 apresentações, não abre mão da rua " embora se sinta em casa nos palcos italianos" e entre locais mais inusitados só não se apresentaram em estádio de futebol. Para o trio, treinamento é palavra de guerra. "No humor, o ator é dono de sua criação, mas isso exige um treinamento constante, não aparece por milagre", diz o ator Alexandre Roit. Pantagruel não tende a ser a súmula dos trabalhos do grupo, mas incorpora elementos desse treinamento que só a rua confere. "Não é fácil segurar uma roda de 200, 300 pessoas na rua. O ator precisa saber se comunicar muito bem para cativar o espectador num local aberto. Esse aprendizado a gente acaba levando para o palco", professa Raul Barreto, o ator titular do gigante Pantagruel. As novidades de Pantagruel estão nos vários recursos visuais, musicais e sonoros, com bonecos representando o gigantismo de alguns personagens, e máscaras que reforçam a busca de identidade do herói. Durante a peça, tubos são distribuídos ao público, de onde se extraem sons ornamentais dos enigmas da aventura. O trabalho musical opta pela diversidade, com criações que vão da ópera ao rap. Também há coreografias que mesclam elementos brasileiros, como o maculelê e o jogo de malabares do circo. Liberdade autoral - Para recontar a aventura rabelaisiana, foram pesquisados outros autores renascentistas, como Thomas Morus, Shakespeare e Erasmo de Rotterdam. Os Parlapatões encararam o desafio de adaptar a obra com uma liberdade que possibilitou até referências contemporâneas, como uma citação tirada do espetáculo Liberdade, Liberdade, de Millôr Fernandes. Alguns personagens presentes na obra de Rabelais foram condensados para se transformar em um. "Há personagens que caíram como luva: temos, por exemplo, um padre absolutamente maluco, que gosta de guerras e bebida; e um pantagruelista racional, Epistemão, que tem a cabeça solta do corpo", exemplifica Viana. "Há na obra de Rabelais, como expressão do Renascimento, um olhar do homem sobre sua própria natureza." O espetáculo, que recebeu o Prêmio Estímulo 2000, tem apoio institucional do Sesc, e um elenco integrado ainda por Claudinei Brandão, Rui Minharro, Henrique Stroeter, Pedro Guilherme e Paula Arruda. Os músicos em cena são Eduardo Contrera, Fernando Murilo e Fábio Tagliaferri. Abel Rocha assina a direção musical, que tem trilha sonora composta por Miguel Briamonte.

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