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Parlapatões encenam escatologia em roda de chope

Por Agencia Estado
Atualização:

Reconhecidos por levar o humor a sério, o grupo Parlapatões, Patifes e Paspalhões acrescenta, a partir de amanhã, mais um espetáculo aos quatro que mantém em repertório no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Com texto de Mário Viana e direção de Hugo Possolo, Um Chopes, Dois Pastel e Uma Porção de Bobagem estréia amanhã transformando a Sala Repertório num bar. Com direito a comprar bebida e tira-gosto, o público vai espalhar-se pelas mesas do "boteco" em que um grupo de colegas de trabalho promove um happy hour para lá de informal, servidos pelo garçom Kinojo (Alexandre Roit). O tema da peça é nada menos que a escatologia. Depois do terceiro ou quarto chope, a turma decide criar um dicionário de nojeiras. De A a Z, nenhuma secreção corporal é esquecida. Felizmente, para quem tem estômago fraco, o talento dos atores para o humor transforma tudo numa divertida brincadeira. "O objetivo não é provocar constrangimento", afirma Possolo. "A leitura amoral característica da comédia neutraliza a aversão". O espetáculo tem trilha sonora ao vivo, executada pelo músico Marcelo Amalfi. Entre outras pérolas do repertório escatológico estão Desgustação, de Rita Lee e Roberto Carvalho; Isso para Mim É Perfume, um rock pesado dos Titãs transformado em pagode pelos Parlapatões, e Vou Fazer Cocô, do grupo Garotos Podres. Mesmo o mais asséptico espectador não deve conter a gargalhada ao ouvir, por exemplo, o refrão de uma das músicas do repertório do Língua de Trapo, que ganhou ritmo de bossa nova e cujo tema é o mesmo do punk dos Garotos Podres. A brincadeira serve para quebrar o constragimento provocado pela pouca intimidade entre os companheiros de "firma": a recepcionista gostosinha, loura e burra (Bárbara Paz), a escriturária a fim de "se dar bem" (Keila Tasquini), o macho invocado e brigão (Henrique Stroeter) e o metido a conquistador (Raul Barretto). Lá pelas tantas, junta-se ao grupo o músico metaleiro gordo da mesa ao lado (Claudinei Brandão) atraído pelos olhares cobiçosos da escriturária. Quem nunca freqüentou um sujinho, tomou um pilequinho com colegas de trabalho, falou um monte de besteiras e até usou a nada recomendável "toalete" local, que atire o primeiro ovo (mais "fashion" que tomate). Mas cuidado! O irreverente grupo integrado por Hugo Possolo, Alexandre Roit e Raul Barretto pode não hesitar em devolvê-lo à platéia. A escatologia está na raiz do humor popular. Quem não se lembra do famoso número no qual um palhaço se agacha, a calça se rasga e surge um som que invariavelmente arranca gargalhadas das crianças? A linguagem circense foi a primeira a conquistar Hugo Possolo e Alexandre Roit, que se conheceram no Circo Escola Picadeiro, em 1989. A insatisfação comum com os caminhos do teatro tradicional levou-os à rua, onde criaram seus primeiros espetáculos. Em 1993, Raul Barretto completa o grupo e juntos criam o primeiro trabalho reconhecido por público e crítica, Sardanapalo, que numa visão clown conta as aventuras do conquistador macedônio Alexandre. O sentido da vida, a morte, a solidão e o poder são temas explorados pelos Parlapatões em muitos de seus espetáculos.

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