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Paris expõe obras eróticas escondidas por 150 anos; veja

Acervo 'Inferno' da Biblioteca Nacional da França era tido como imoral e pornográfico.

Por Daniela Fernandes
Atualização:

A Biblioteca Nacional da França (BNF), em Paris, traz pela primeira vez uma exposição de livros e gravuras que foram mantidos escondidos do público durante mais de 150 anos devido ao seu conteúdo considerado altamente erótico e imoral. A mostra O Inferno da Biblioteca - Eros em segredo foi inaugurada nesta terça-feira e aborda cinco séculos de erotismo em textos, desenhos e fotografias. O "Inferno" era o nome do código criado pela biblioteca, em 1844, para catalogar obras consideradas libertinas e obscenas. Elas eram mantidas em um acervo de livros raros, e, para consultá-las, era necessário submeter o pedido a um comitê examinador. "A decisão de impedir o acesso aos livros eróticos não era do poder público e sim dos próprios bibliotecários. No século 19, a BNF se tornou um local público para leitura e, como existia um certo puritanismo, as pessoas queriam evitar que livros ousados circulassem por todas as mãos", diz Marie-Françoise Quignard, uma das curadores da exposição. Em 1969, pouco tempo depois da revolução estudantil de maio de 1968, o "Inferno" da BNF, como acervo de obras "proibidas", foi extinto. Mas o nome "Inferno" foi mantido para identificar obras eróticas. Em 1983, as restrições que dificultavam a consulta das obras foram suspensas. Mas, para o grande público, a maior parte dos desenhos e textos continuaram desconhecidos. O "Inferno", hoje, reúne cerca de duas mil obras literárias. As imagens mais antigas datam do século 16, mas há também obras recentes, como um livro de Pierre Bourgeade, ilustrado com fotografias de Joël Leick, editado em 2000 e catalogado no "inferno" com o número 2018. Entre as várias curiosidades da mostra, está uma espécie de guia das "demoiselles" (senhoritas) de Paris, com endereços e especialidades das prostitutas, datado de 1791. Com uma decoração em tons de rosa e de vermelho, a mostra traz diferentes períodos da história literária e social da França. Uma parte da exposição é dedicada a personagens de romances. No século 17 e sobretudo no 18, considerado o "século da libertinagem", vários escritores escreviam sob pseudônimos para evitar serem levados à Justiça por atentado ao pudor. No século 19, obras como As Flores do Mal, de Charles Baudelaire, que causou grande escândalo no país, e textos de Prosper Merimée e Paul Verlaine passam a integrar o "inferno" da BNF, ao lado das primeiras fotos pornográficas. Outra parte da mostra se concentra em obras aos autores do século 20, como Guillaume Apollinaire, Louis Aragon e Jean Genet. A exposição, que é proibida aos menores de 16 anos, fica aberta até 2 de março de 2008. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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