Parentes de Yolanda Penteado grudam na TV

Lembranças de um passado distante a cada cena comovem os parentes de Yolanda Penteado e do senador Freitas Valle, figuras da história de São Paulo que inspiraram a série Um Só Coração

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Por Agencia Estado
Atualização:

Os parentes de Yolanda Penteado e do senador Freitas Valle, figuras da história de São Paulo que inspiraram os personagens de Ana Paula Arósio e Pedro Paulo Rangel, grudam na TV para conferir momentos que viveram reproduzidos na minissérie Um Só Coração, de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Na casa de algumas famílias tradicionais de São Paulo, parecia final de Copa do Mundo. Champanhe gelada, mesa farta e muita expectativa. Todos a postos em frente da televisão, contando os minutos para o início do primeiro capítulo da série, que foi ao ar na noite de terça, na "Globo". Ansiosas, a sobrinha-neta de Yolanda, Sylvia Hess, ao lado de sua filha, Carolina Hess, e da sogra, Stela de Almeida Prado Bernardes de Oliveira, aguardavam a apresentação, queriam ver na abertura o nome da atriz Gabriela Hess, que vai interpretar sua avó, Guiomarita Penteado. O clima de euforia permaneceu até o último minuto com direito até a uma salva de palmas. Todos os detalhes eram observados, lembranças de um passado distante vinham à tona a cada cena. "Acho importante contar a história de São Paulo e de sua cultura, muitas pessoas não as conhecem. Por exemplo, poucos sabem que todos os homens foram para a frente, as casas ficaram vazias e todos contribuíam com ouro para a compra de armas," lembra Stela. "Eram pessoas de ideais, envolvidas com as questões políticas e artísticas do País," completa Sylvia. Ana Paula Arósio interpreta Yolanda, uma mulher destemida e de personalidade arrojada. "Ela era uma mulher à frente de seu tempo, corajosa, com temperamento forte e muito brava. Não tinha filhos e sempre convidava todos os sobrinhos para passarem as férias na fazenda. Era rígida, às vezes até nos assustava. Também era uma dona de casa extremada, organizada", observa Sylvia. Essa mulher arrebatou corações, entre eles os de Santos Dumont, Assis Chateubriand e de Ciccilo Matarazzo, seu segundo marido. Na minissérie, ela se casa com o primo, casamento arranjado pela mãe, Guiomar. "Na verdade, ela se casou com Jayme da Silva Telles e sua mãe, Guiomar (Cássia Kiss), não era uma mulher tão dura como apareceu no capítulo, era mais doce", afirma Stela. Yolanda também tinha medo do comunismo. Segundo Sylvia, ela costumava alertar os sobrinhos para a importância dos estudos, de ter uma profissão. "Ela chegou a abrir uma padaria na frente da fazenda, dizia que tinha uma profissão, era padeira." Amante da arte, grande colecionadora, também costumava freqüentar a casa do senador Freitas Valle, a Villa Kyrial. Mecenas - Parte do clã Freitas Valle se reuniu na casa da jornalista Marcia Camargos para assistir a Um só Coração. Antes de a minissérie começar, as netas do senador, Heloisa e Lygia, lembraram-se, com nostalgia, os tempos em que a Villa Kyrial vivia repleta de artistas, intelectuais e políticos. Foi lá que as duas passaram a infância e parte da juventude, até se casarem. "O salão em que o vovô recebia convidados era assim mesmo", comentou Lygia, referindo-se à cena em que o senador, interpretado pelo ator Pedro Paulo Rangel, recebe convidados como Oswald e Mário de Andrade. Assim como os descendentes de Yolanda Penteado, a família Freitas Valle estava eufórica. Demorou um tempo até que Pedro Paulo Rangel, caracterizado como o senador, finalmente aparecesse na telinha. A primeira aparição encheu o grupo de alegria, seguido por um burburinho generalizado. "Só que nosso avô não era tão baixo", comentou Heloísa. O senador Freitas Valle da vida real era um personagem esquecido da história, até ser resgatado, recentemente, na tese de doutorado de Marcia Camargos, que deu origem ao livro Villa Kyrial - Crônica da Belle Époque Paulistana e serviu de inspiração para os autores Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Fazendo as vezes de mecenas no início do século 20, Freitas Valle "colocou São Paulo no mapa cultural do Brasil", segundo Marcia. Com as bênçãos do presidente - e amigo - Washington Luís ele financiava os estudos de músicos e artistas plásticos no exterior, fazendo uso da lei de Pensionato Artístico do Estado de São Paulo. Influente, sua palavra era lei. As netas recordam-se da rigidez do avô. "Mas eu gostava muito dele", derrete-se Lygia. "Era maravilhoso."

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