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"Para Sempre", conta histórias de amor

Os temas de Para sempre, amor e tempo, parecem mesmo coisa de romance cor-de-rosa. Mas essa é uma sensação que passa logo no seu início

Por Agencia Estado
Atualização:

Os temas de Para sempre, amor e tempo, parecem mesmo coisa de romance cor-de-rosa, como ficaram conhecidos livros açucarados e produzidos em série para distrair as mulheres. Mas essa é uma sensação que passa logo no seu início. O livro mais faz pensar do que propriamente distrair no sentido narcotizante do termo, sem abrir mão de uma simpatia que beira a do bom professor que conduz o aluno - o que fica ainda mais explícito quando entra em cena Antônia, personagem que dá aulas de literatura e que começa a relação com um jornalista ao ouvir sua voz no rádio pela manhã. Na primeira página da novela, a autora avisa: "De qualquer modo, com ou sem eternidade, o fato é que esse amor pode não ser considerado tão eterno assim, porque, afinal de contas, começa. Quer dizer, não tem vida eterna - porque antes houve um momento em que não existia. E nem sempre nesse início dá para se saber que é amor - quanto mais se é para sempre e outras categorias ligadas a essa área." A partir daí, inicia-se uma série de relações, entremeadas por citações que vão de John Lennon a William Shakespeare, passando por mitos gregos, cantigas de roda, Fernando Pessoa e Paulo Mendes Campos. Em alguns casos, elas são óbvias (Vinícius de Morais: "Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure.") Em outros, mais inesperadas. Ana Maria costura pequenas relações, nascidas da casualidade, e vai defendendo a tese de que a noção de eternidade é, sobretudo, relativa. Nelson e Susana, Antônia e Daniel, Zezé e Ewerton, Manuela e Bruno vivem amores que vêm e que parecem querer durar uma eternidade. Mas, assim como o acaso fez com que eles nascessem, também o imponderável jogará para que eles balancem. Manuela, filha de Susana, e Bruno são protagonistas da última relação do livro. É a menina, encontrando-se com o sentimento pela primeira vez. A mãe, já "escolada", parece imaginar no que aquilo vai dar (um sentimento que a autora, estrategicamente, não apresenta no início da obra, em que tudo caminha para um mar de rosas cheirosas e felpudas). Susana conhece o enredo - mas sempre ficará a pergunta: será que ela está certa? Ou será que a menina encontrará a fórmula do amor eterno? Essa questão move o livro, assim como a idéia de que há, no fundo, algo de perene no amor - o próprio, que passa de um para outro, como um vírus, provocador de uma febre prazerosa, que permite esquecer o trabalho e a rotina. Para sempre é uma obra despretensiosa, que talvez não passasse por uma crítica que privilegiasse o rigor. Entretanto, tem um valor inegável: pensar sobre o amor é, de fato, improdutivo e não combina com os dias de hoje - mas até isso será proibido? Respondam os leitores - mulheres e homens, se houver.

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