Para inglês ver

Rio Occupation London leva 30 artistas do Brasil para ocupar a capital inglesa durante os Jogos Olímpicos

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Por Flavia Guerra
Atualização:

Imagine que você more em Londres, e que sua casa vai ser ocupada por artistas que não falam sua língua e cuja cultura você não conhece bem, mas a quem você possa convidar e assistir a uma apresentação no conforto de seu lar. Pode ser uma performance, show, dança ou até refeição. Tudo é filmado, editado e se transforma em um documentário que será exibido em caixas espalhadas por diversos pontos de Londres. Improvável, mas não impossível. E é exatamente isso que a autora e diretora de teatro e cinema Christiane Jatahy pretende realizar a partir de hoje, durante o Rio Occupation London, uma das mais inovadoras ações culturais que o Brasil já realizou em Londres e que integra a programação do Festival London 2012, espécie de Olimpíada Cultural, que levará ao Reino Unido centenas de artistas, famosos e desconhecidos, antes e durante os Jogos Olímpicos. As intervenções de Christiane Jatahy fazem parte desta ação, que leva outros 29 artistas cariocas de diversas áreas para, durante um mês, ocuparem a capital inglesa. Baseados no Battersea Arts Center (BAC), desenvolverão projetos nas áreas de cinema, música, fotografia, artes cênicas, teatro, design, entre outros. Além de realizarem várias performances em diversos pontos da cidade, farão apresentações em locais como Victoria and Albert Museum, Tate Modern, Southbank Centre, Rich Mix, BAC e uma grande celebração, de 1.º a 3 de agosto, no V22 Summer Club, onde mostrarão o resultado dos projetos desenvolvidos no período. Criado pela Secretaria de Cultura do Rio, o projeto tem produção executiva da organização artística People's Palace Projects em parceria com o BAC e o V22 Summer Club. "Estamos muito felizes. Desde a antiguidade deveria ser assim, mas acabou permanecendo só a parte esportiva dos jogos", conta a secretária de Cultura do Rio, Adriana Rattes. Foi em uma das idas de Adriana a Londres que a ideia da Occupation nasceu. "Estava de férias e fui a um encontro em que Ruth Mackenzie, diretora da Cultural Olympiad, falava de seus planos e comentei sobre nossa vontade de realizar algo. Ela então pediu que pensássemos em uma ação. E aqui está. Vai reverberar e deixar suas sementes. E em outubro serão os ingleses que virão ao Brasil com o London Occupation Rio", conta Adriana. Para ela, a parceria é, mais do que levar uma visão contemporânea da arte brasileira, um legado para o Rio 2016.É exatamente esta reverberação que interessa a Christiane Jatahy. Além de artista convidada, ela é, ao lado do designer e diretor de teatro, cinema, dança e circo Gringo Cardia, diretora artística do Rio Occupation London. Mais que uma lista de medalhões que mostraria o mainstream do que o Brasil vem produzindo, a dupla escalou nomes que, se não têm o apelo pop de astros como Gilberto Gil (que há pouco se apresentou no festival Back 2 Black), possuem potencial para contaminar os londrinos com ações que vão além do "para inglês ver". "Na coletiva de imprensa de lançamento do projeto, no Rio, um jornalista internacional perguntou por que não levávamos orquestras tocando Villa-Lobos, Tom Jobim, etc. Amamos a arte dele, mas queremos mostrar um Brasil pouco conhecido e atual", explica Adriana Rattes. Na lista de artistas, estão nomes como a cineasta Anna Azevedo, que vai documentar e questionar os clichês de Londres e do Rio; o artista gráfico Breno Pineschi, que instalará grandes cachos coloridos de bananas em diversos pontos da capital inglesa; o bailarino Bernardo Stumpf, que vai ministrar workshops em comunidades e criar, em parceria com dançarinos ingleses, performances que serão apresentadas em lugares não destinados a isso. Christiane acrescenta: "É no nível pessoal, na relação microcosmo de uma casa, de um transeunte, de uma exibição de cinema alternativo no East London, que esta nova arte contemporânea brasileira vai ocupar as mentes de quem vier a descobrir que o Rio, e o País, produzem muito mais que samba."

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