Para Chirac, Derrida foi um "cidadão do mundo"

"A França deu ao mundo um de seus filósofos contemporâneos mais importantes", disse Chirac sobre o intelectual, morto sexta-feira

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Por Agencia Estado
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Fundador da teoria filosófica da "desconstrução", e autor de obras como Gramatologia e Papel-Máquina, o intelectual Jacques Derrida, foi um dos principais filófosos contemporâneos, disse ontem o presidente da França, Jacques Chirac. "Com ele, a França deu ao mundo um de seus filósofos contemporâneos mais importantes, uma das figuras mais importantes da vida intelectual de nosso tempo", disse o Chirac em uma declaração, chamando Derrida de "cidadão do mundo". Derrida morreu na última sexta-feira, aos 74 anos de idade, de um câncer no pâncreas. O filósofo, nascido El Biar, Argélia, em 15 de julho de 1930, em uma família de judeus, morreu eu um hospital de Paris, informou a emissora de TV LCI. Professor em universidades de prestígio como a Sorbonne e a Ecole des Hautes Etude en Sciences Sociales, na França, e na Universidade da Califórnia e de Yale, nos Estados Unidos, as obras de Derrida foram traduzidas para os principais idiomas do mundo. Uma de suas teses mais provocantes foi divulgada em A Gramatologia, ao afirmar que a linguagem escrita precede a linguagem oral no ser humano. A obra é uma crítica direta ao filósofo francês do século 18 Jean-Jacques Rousseau, e uma crítica velada a outro importante intelectual contemporâneo, o psicanalista e filósofo Jacques Lacan, que formulou a tese de que o inconsciente está estruturado como uma linguagem. Derrida questionou a idéia do "bom selvagem" de Rousseau, que impregnou os textos de outros importantes intelectuais franceses do século 20, como Claude Lévi-Strauss. Derrida começou sua carreira de escritor na década de sessenta. Suas teorias desconstrucionistas foram aplicada na literatura, na lingüística, na filosofia, no direito e na arquitetura. O filósofo concentrou seu trabalho na linguagem, mostrando suas múltiplas camadas e significados ou formas de interpretação. Em vários de seus trabalhos desafiou a noção de que a linguagem oral é uma forma direta de comunicação ou que o autor de um texto é também quem define o significado de sua escrita. A abordagem da desconstrução continua controversa, com críticos declarando que o movimento acabou. Críticos acusaram Derrida de niilismo, a crença de que a existência não tem sentido, o que ele sempre negou. "Desconstrução é no lado do ´sim´, uma afirmação da vida", disse o filósofo em agosto, em entrevista ao jornal Le Monde. Derrida foi diversas vezes indicado ao Nobel de Literatura, mas nunca venceu. Derrida se recusava a manter-se fechado em círculo intelectual. Ele lutou por causas como as dos direitos dos refugiados argelianos na França e contra o apartheid. O filósofo escreveu dois ensaios após os ataques de 11 de setembro, O Conceito do 11 de Setembro e Hoodlum. "Desde Platão, a mais antiga lei filosófica é: aprender a viver é aprender morrer", disse Derrida ao jornal Le Monde, em agosto. "Não aprendi a aceitar a morte. Continuo ignorante na sabedoria de aprender a morrer", disse.

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