Paisagem Carioca mostra Rio nos seus 435 anos

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Por Agencia Estado
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O Rio de Janeiro é a cidade mais retratada do Brasil e a segunda do mundo, perdendo apenas para Paris. A partir dessa premissa, o Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio inaugura na terça-feira a exposição A Paisagem Carioca, que vai mostrar como a chamada Cidade Maravilhosa vem sendo representada desde sua fundação, há 435 anos. De mapas militares dos séculos 17 e 18, quando a Baía de Guanabara era ponto estratégico na defesa do território português na América, a filmes, vídeos, cartazes turísticos e até objetos do cotidiano enfeitados com os morros, praias e monumentos, buscou-se a maior abrangência possível. "Nossa intenção é contar como a cidade elaborou sua imagem à medida em que era construída, reformada e restaurada", explica o curador da exposição, o museógrafo Carlos Martins. Ele conta que, no ano passado, organizou a mostra Brasil Redescoberto, no Paço da Cidade, no Rio, e 90% do material que encontrou em sua pesquisa era referente à cidade. A partir do século 19, o acervo se multiplica e aparece o enfoque artístico. "Isso se explica pelo interesse que o Brasil despertou com a vinda da família real portuguesa e a abertura do País ao mundo, interesse acentuado pelo longo tempo em que foi capital federal." Após a mostra realizada no Paço, Martins começou a trabalhar na que será aberta na terça. Dada a riqueza do acervo reunido, ele dividiu a exposição em sete módulos, que enfocam abordagens que o Rio teve e tem nas diversas formas, artísticas ou não, de representação da realidade. "Foi uma garimpagem alucinada porque queria de objetos populares, como bandejas de asa de borboleta, a obras da alta cultura, como a música de Villa-Lobos e as gravuras de Debret", lembra. "Cada colecionador me falava de outro, com uma coleção maior; além disso, foi preciso seduzir algumas instituições para conseguir itens de seu acervo." Apesar de o Arquivo Histórico do Exército ter sido o mais resistente, Martins obteve na instituição a primeira planta do Rio, feita em 1760, pelo cartógrafo conhecido como Blasco, recentemente restaurada, mas nunca exibida. Esse mapa integra o módulo Escritas de Viagem, composto também por livros e cartas de estrangeiros contando sua experiência carioca. Além da correspondência do pintor impressionista Édouard Manet, falando do que vira em 1848, quando a pintura ainda era um sonho distante; o diário da inglesa Maria Grahan, preceptora dos filhos de d. Pedro II; e o livro Flagrantes do Brasil, escrito por Jean Manzon nos anos 40, que havia acabado de chegar ao País e estava deslumbrado com o Rio. Ícones da Paisagem do Rio de Janeiro é o módulo seguinte com representações do Corcovado, Outeiro da Glória, Arcos da Lapa, Pão de Açúcar e Praça XV - imagens-referências da cidade. "Temos ainda cartazes publicitários de empresas aéreas que usam essas paisagens para referir-se não só ao Brasil, mas à América do Sul", ressalta Martins. No módulo A Paisagem Aplicada, o museógrafo buscou todo o tipo de objeto que usa o Rio como ornamento. O item mais precioso é o cofre de porcelana Sévres, com o Pão de Açúcar pintado, presente de casamento dado a uma irmã de d. Pedro II, cedido pelo Museu Imperial de Petrópolis. Há também broches, cartões-postais, pratos e caixas de marchetaria de colecionadores particulares. "É comum entre os cariocas colecionar objetos com a imagem da cidade", revela Martins. O Rio representado nos palcos é o tema do módulo A Imagem, a Miragem e o Engano, que aborda o teatro a partir de Arthur Azevedo. O cenário de uma peça de revista de Jardel Jercólis (pai do ator Jardel Filho) será reproduzido e o público poderá circular por ele. O módulo A Música e a Visão do Rio mereceu uma trilha de Tim Rescala, Paisagem Sonora para a Paisagem Carioca, e pesquisa musical de Luiz Paulo Horta. "Tim Rescala faz o fundo musical da exposição e outras canções entram quando a imagem tiver referência a ela." Cinema - O módulo sobre cinema foi dividido em dois. Além das cenas emblemáticas que serão exibidas no espaço da mostra, a Cinemateca do MAM vai abrigar, de 25 de agosto a 3 de setembro, um pequeno festival de filmes, nacionais e internacionais, que têm o Rio como cenário. Há títulos preciosos como os pioneiros Lábios sem Beijo, de Humberto Mauro, de 1930, e Voando para o Rio, de Thorton Freeland, de 1933. A Grande Cidade, de Cacá Diegues (1965), vai representar o Cinema Novo e Não Quero Falar sobre Isso agora, de Mauro Faria, os anos 90. Já a literatura inspirada no Rio, que tem Machado de Assis como carro-chefe, é retratada a partir do primeiro romance brasileiro, Memórias de um Sargento de Milícias, de Joaquim Manoel de Macedo, ambientado no Rio colonial, e chega aos dias de hoje. Um módulo sobre a Baía de Guanabara, em torno da qual a cidade cresceu e espalhou-se nos três primeiros séculos de sua existência, encerra a exposição. "Os bairros oceânicos, como Copacabana e Ipanema, fizeram 100 anos há poucos dias", diz o curador. "Vamos mostrar as representações da Baía, desde os mapas militares até as fotos artístico-jornalísticas de Augusto Malta e Marc Ferrez e os quadros de Leandro Joaquim, pioneiro do fim do século 18." Martins explica que, para compensar a ausência de muitas obras originais, que integram a Mostra do Redescobrimento, no Ibirapuera, em São Paulo, foram produzidos 15 vídeos e obras multimídias enfocando a cidade de vários pontos de vista. "Como o pé-direito do MAM é muito alto, adotamos a estratégia de colocar os objetos originais até 3,5 metros, altura de uma sala normal, e, daí para cima, fazer as projeções", avisa. "Há itens interessantes como a animação de quadros de Leandro Joaquim e um Visorama reconstituindo a imagem da Baía da Guanabara em 360º." Paralelamente à exposição, serão realizados ciclos de reflexão sobre o Rio. Alunos de escolas públicas vão participar deles. Visitarão a mostra, orientados por professoras treinadas, e, depois, vão criar seus próprios trabalhos sobre a cidade. Já, no dia 22, começa no Museu Nacional de Belas Artes o seminário Paisagem Passagem, coordenado por Adauto Novaes, que promovia os ciclos de debates da Fundação Nacional de Artes. As palestras abordarão história, urbanismo, arte e imaginário do Rio. A mostra A Paisagem Carioca é o principal evento promovido pela prefeitura do Rio, neste ano, como parte das comemorações dos 500 Anos do Brasil. O orçamento, de R$ 2,3 milhões, foi dividido entre o governo municipal, as empresas Telemar, Petrobrás e Embratel, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Bradesco Seguros. Após 17 de setembro, quando a exposição deixa o MAM, os vídeos e material multimídia passam a integrar o acervo do Museu da Cidade, na Gávea. "Se houver convites, podemos levar a mostra a outros Estados", disse Martins.

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