*
Na política, eram opostos. O pai reacionário, o filho progressista. As poucas vezes em que falavam de política sempre acabavam da mesma maneira. – Vá viver em Cuba – dizia o velho para o filho. E este: – Vá viver no século dezenove. Depois passavam semanas sem nem se olharem.
*
Mas agora tinham assunto. – Estou podendo, finalmente, falar com meu o meu pai. – Sobre o que vocês conversam? – Remédios. Comparavam tratamentos. – Qual é o seu betabloqueador? – Está tomando o que para o colesterol? – Experimenta este. Trocavam hemogramas. – Sua glicose está melhor do que a minha!
*
o filho contou que era comum ir à farmácia com o pai, de braços dados.
Mãe. Ela contou que o conselho que recebeu da sua mãe, quando se casou, foi “Não seja inteligente demais, minha filha. Disfarce”. E contou que a mãe lhe dissera que devia o sucesso do seu casamento a uma frase. – Que frase, mamãe? – “Não tenho cabeça para essas coisas complicadas, mas...” A mãe usava a frase como preâmbulo sempre que precisava dizer ao marido o que ele deveria fazer. Segundo a mãe, para um casamento feliz, preâmbulo é tudo.