PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Outra carta da Dorinha

Por Luis Fernando Verissimo
Atualização:

Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, não revela sua idade para ninguém, mas nega que já viu o cometa Halley passar duas vezes. Só o Pitanguy e Deus sabem a sua verdadeira idade, e um está aposentado e o outro está quase. Dorinha tem se reunido com o seu grupo de carteado e pressão política, as Socialaites Socialistas, que lutam pela implantação no Brasil do socialismo soviético na sua fase terminal, que é a volta ao feudalismo (mas esclarecido desta vez, segundo elas). As reuniões das Socialaites Socialistas também tratam do trabalho social do grupo. Por exemplo: todas se comprometeram a doar seus botox para transplante, caso venham a morrer. O assunto predominante nas reuniões, claro, tem sido os escândalos das empreiteiras. Três do grupo estão com maridos presos, o que acham ótimo. "Assim, pelo menos, a gente sabe onde eles estão dormindo", diz Suzana ("Su") Cata, para inveja das que têm maridos soltos. Mas a preocupação maior de todas é... Deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio escrita com tinta púrpura em papel magenta cheirando a "Mange Moi", um perfume proibido pelo Vaticano, mas que, dizem, o papa Francisco está prestes a liberar. "Caríssimo! Beijos secos, para poupar saliva. Sim, estamos todas empenhadas na campanha contra o desperdício de água. Senti como o problema é grave quando fiz uma enquete no grupo e se revelou que todas - todas! - estão dando banhos nos seus cachorros com água mineral S. Pellegrino. Menos eu que lavo a "Desirée de Goumont", meu poodle (o nome é maior do que ela), com champanhe rosé. A Tatiana ("Tati") Bitati, vice-líder do grupo, abaixo de mim, acha que devemos começar a pensar num plano D, de dar o fora, se a crise hídrica piorar muito. Ela propõe o exílio e já se informou sobre um condomínio em Miami que só recebe brasileiros fugitivos da crise e tem o nome sugestivo de "Bye-bye Brazil". Nos mudaríamos para lá até que os reservatórios enchessem de novo ou o País virasse um imenso Piauí e não houvesse mais razão para voltar. Mas assez de misère! Como o próximo carnaval periga ser o último antes do Juízo Final, decidi voltar a desfilar. Sim, estarei de novo na avenida! Só preciso encontrar meu agogô e meu tapa-sexo. O tapa-sexo foi visto pela última vez na boca da "Desirée de Goumont", que brincava com ele distraída, sem se dar conta do simbolismo da cena. Meu único sentimento é que o Pitanguy não poderá estar ao meu lado, para ouvir o povo aplaudir meu corpo e pedir "O autor! O autor!". Da tua Dorinha."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.