18 de agosto de 2010 | 00h00
Foi o búlgaro Ilija Trojanow quem se propôs a esse desafio com O Colecionador de Mundos (tradução de Sergio Tellaroli, Companhia das Letras. 414 págs., R$ 51), romance que tem lançamento hoje, às 19h, com debate no Goethe-Institut São Paulo (R. Lisboa, 974, tel. 3296-7000, entrada franca). O título, que lhe rendeu elogiosas críticas em todo o mundo e prêmios como o de literatura da Feira do Livro de Leipzig, une as mais diferentes vozes - inventadas por Trojanow, registradas por Burton, descritas por biógrafos - numa narrativa capaz de humanizar tanto a complexa personalidade do britânico quanto as realidades que os europeus tendem a ver apenas de forma superficial.
"Queria escrever um romance sobre o encontro entre a Europa e outras culturas no século 19, mas também dar a essas outras culturas uma voz que fosse além das notas de rodapé que lhes costumam ser dadas nas ficções ocidentais", diz, em entrevista por e-mail ao Estado, o autor, que participou da Bienal do Livro de São Paulo em 2008 e está desde a semana passada no Brasil para uma série de eventos. O romance narra três importantes viagens de Burton do ponto de vista dele próprio, mas também o de criados e autoridades que teriam convivido com essa figura tão singular. Cada uma dessas expedições compõe uma subdivisão do volume: a estada de oito anos do britânico na Índia, sua peregrinação de Meca a Medina, disfarçado de muçulmano afegão, e o mergulho nos confins da África em busca da nascente do Nilo.
Explorações. Assim como Burton, Ilija Trojanow coleciona mundos. Nascido na Bulgária, em 1965, e criado no Quênia como filho de refugiados a partir de 1972, depois de uma temporada na Alemanha Ocidental, o escritor entrou em contato com a história de Burton quando tinha apenas 10 anos, ao ganhar dos pais um livro do explorador. Cultivou ao longo de décadas o interesse pelo assunto, até se decidir a seguir os passos do britânico. Viveu por vários anos na Índia, refez os passos de seu personagem na África Oriental e fez parte de grupos de estudos sobre o Islã. Hoje, diz se sentir integrante de todas essas culturas.
"Como búlgaro, sou em parte oriental, e escrevo em dois idiomas que não são minhas línguas maternas (inglês e alemão). De certa maneira, a ideia de lar para mim é algo complexa. Mas sinto que essa característica que poderia ser definida como cosmopolita não é um predicado meu, e sim uma das maneiras de desenvolver individualidade criativa em época de globalização", avalia.
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