PUBLICIDADE

"Os Maias" recebe críticas dos especialistas em literatura

Por Agencia Estado
Atualização:

A adaptação de Os Maias para a televisão prima pela sofisticação visual dos cenários, mas peca pela fragilidade dos personagens e a deturpação da história original de Eça de Queiroz. Essa pelo menos é a opinião de dois atentos telespectadores da minissérie exibida pela Rede Globo desde o dia nove deste mês. Jorge Fernandes, professor de Literatura Portuguesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), insiste no lugar-comum da impossibilidade de levar para as telas uma obra-prima da literatura sem prejuízo de sua força e beleza. Afonso da Maia, o velho patriarca da família e avô de Carlos, vivido por Walmor Chagas, é criticado na adaptação pela obssessão com relação ao destino do neto. ?No livro, o personagem é menos rígido nessa relação com o passado e o futuro do menino?, diz Fernandes. Os passeios da câmera em longos planos por uma cenografia luxuosa, o tom sépia da fotografia e a iluminação são destacados pela especialista em Eça de Queiroz Cleonice Berardinelli, da PUC-Rio. A narrativa em flash back, introduzida no primeiro capítulo, também agradou à professora. Mas a inserção de personagens e tramas paralelas, segundo ela, prejudicou a adaptação. ?Foi uma colagem mal feita?, diz. Berardinelli refere-se às histórias de A Relíquia e A Capital, duas obras de Eça enxertadas na minissérie pela roteirista Maria Adelaide Amaral sob pretexto de aumentar a dose de humor na história. Para a queiroziana, os planos sociais das três obras são distintos. Enquanto em Os Maias, Afonso representa a decadência da aristocracia rural de Portugal, em A Relíquia, a Titi é uma beata burguesa endinheirada. ?As histórias destoam se colocadas uma ao lado da outra?. Berardinelli discorda ainda de que não haja humor suficiente na saga de Carlos da Maia: ?É só pensar no Damaso Salcede ou no João da Ega para perceber que esta falta de humor não é verdade?. Fernandes tem a mesma opinião e teme que o público se perca numa contextualização mal feita e acrescenta que os elementos folhetinescos, visíveis mas discretos na obra original, foram exarcebados na minissérie. Os números do Ibope na primeira semana de exibição mostram que a minissérie também não conquistou o público, pelo menos por enquanto. Embora o primeiro capítulo tenha alcançado 32 pontos de audiência, com pico de 39, a média dos cinco seguintes foi de 18 pontos. A Rede Globo trabalhava com a meta de 30 pontos, mas na quarta, dia 17, a audiência veio abaixo com apenas 14 pontos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.