´Os Maias´ ganham duas novas edições

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Por Agencia Estado
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Em carta ao escritor Ramalho Ortigão, Eça de Queirós dizia empreender dois esforços "monumentais" para escrever. O primeiro consistia em desprender-se da sociedade na qual vivia e, em seguida, evocar a sociedade que desejava retratar. Os Maias, publicado em 1888, foi talvez o romance cuja composição mais consumiu as energias do escritor justamente em razão daqueles dois esforços. Eça começou a escrevê-lo em 1880. Nessa época, havia trocado a fumarenta New Castle pela aprazível Clifton, às margens do rio Avon, na Inglaterra. Os amigos portugueses acharam que Eça havia se acomodado e lhe cobravam um novo livro. Ele, no entanto, preparava uma obra ambiciosa e que muitos consideram o ponto mais alto de sua arte. Eça, morto há cem anos, realizou em Os Maias um dos mais expressivos e profundos retratos da sociedade lisboeta do século 19, que poderá ser agora conferido em duas reedições brasileiras. A Nova Alexandria acaba de lançar a obra (Os Maias, 494 págs.) e a Sá Editores prepara a sua para o início do ano, com prefácio de Maria Adelaide Amaral, que adaptou o romance para a minissérie da Globo. Os Maias é um livro complexo, que serve-se da história de uma família para pintar excessos e desventuras da sociedade oitocentista portuguesa ao longo de três gerações. O história acompanha a trajetória de Carlos da Maia, um aristocrata metropolitano, modelado em uma rígida educação, educado em Coimbra e que, na juventude, participa da vida dissoluta dos jovens de Lisboa. A tragédia de Carlos começa quando se apaixona por Maria Eduarda, bela e elegante mulher, sedentarizada pelo marido. Num torneio de imaginação, o autor acaba revelando a relação de parentesco entre o casal. Mas, como acontece muito em Eça, os personagens secundários acabam seduzindo mais o leitor que os principais. Em Os Maias, João da Ega é utilizado pelo romancista para protagonizar os episódios que melhor ridicularizam a sociedade. Outra criatura cinzelada para a desmoralização dos liboetas é Dâmaso Salcede, uma espécie de concentrador de vícios. A caracterização desse dândi revela o grande talento para a caricatura em Eça. Obcecado com o chique, Salcede copia o comportamento e as modas francesas. Os Maias insere-se num plano não-concluído do autor de descrever, à maneira de Balzac, um painel social por ele intitulado Episódios da Vida Romântica. Eça, que já havia sido acusado de plagiar Flaubert e Zola em obras anteriores, também foi criticado quando a saga de Carlos da Maia foi publicada. Para alguns, o autor inspirou-se em A Educação Sentimental, de Flaubert, e As Aventuras do Senhor Pickwick, de Dickens. Do primeiro, ele teria tirado o aprendizado dos sentidos do jovem Carlos, enquanto o inglês lhe proporcionou uma série de pequenos incidentes humorísticos. É nessa profusão de detalhes e cenas da vida lisboeta - cafés, jornais, salões, passeios a Sintra - que residem as delícias do romance. Isso em razão de Eça ter sido um admirável observador e crítico de seu tempo.

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