PUBLICIDADE

Os livros proibidos durante o regime

Foto do author Maria Fernanda Rodrigues
Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Se existe hoje um movimento editorial para resgatar o que se passou no Brasil nos anos 1960 e 70, o que se via antes, quando o País vivia sob o regime militar, era um esforço para fazer circular as obras escritas no calor da luta. Esse foi o tema da pesquisa de Sandra Reimão, que chegará ao público em dezembro com o lançamento de Repressão e Resistência - Censura a Livros na Ditadura Militar (Edusp/Fapesp).A autora fez amplo levantamento bibliográfico, consultou material de época e entrevistou escritores que sofreram, a partir de 1970, com aos pareceres do Ministério da Justiça e de seu Departamento de Censura e Diversões Públicas (DCDP). Ela encontrou pelo menos 70 obras de autores nacionais vetadas e analisou os dois casos mais emblemáticos - Zero, de Ignácio de Loyola Brandão, e Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca, proibidos há 35 anos. Em 1970, 5 dos 25 livros submetidos à análise foram vetados. Com o tempo, o cerco foi se fechando e o número chegou, em 1975, a 109 proibidos para 132 submetidos.Ricamente ilustrada com as capas das obras censuradas, o decreto-lei 1.077, que instituiu a censura no Brasil, os pareceres, até então inéditos em livro, do Ministério, as cartas enviadas pela sociedade civil de repúdio à ação do órgão ou pedindo o recolhimento de títulos, e a lista de tudo o que foi proibido complementam a publicação.Erico Verissimo e Jorge Amado lideraram o movimento de resistência e orientavam os autores a não submeterem seus livros. Esta, no entanto, não foi a lição que Sandra Reimão tirou do trabalho: "Os escritores foram importantes, mas sempre existiram os pequenos editores que publicavam os livros mais arriscados, o livreiro que mantinha a obra censurada na prateleira e os leitores que continuavam comprando e, com isso, preservando a dignidade do cotidiano", diz. "Atenção a este livro, ministro". Mino Carta leu essa frase de relance num bilhete que acompanhava o Zero na mesa do ministro Armando Falcão. No dia seguinte, veio a notícia da censura. Loyola consultou então o censor do jornal em que trabalhava e descobriu, para sua tranquilidade, que ironicamente havia sido proibido por motivo "moral". Já não corria o risco de ser preso. "Mas fiquei muito magoado porque dediquei nove anos ao livro", conta. O autor, hoje colunista do Caderno 2, do Estado, diz que Zero já vendeu cerca de 800 mil exemplares. Uma edição comemorativa foi lançada pela Global este ano.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.