Os fotógrafos da bomba atômica

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Por Agencia Estado
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No duplo cataclismo nuclear de Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente, poucos fotógrafos conseguiram chegar a estes locais e mostrar a destruição, os corpos e os sobreviventes, para testemunhar os fatos e transmitir imagens de valor histórico inestimável. Às 08h15 do dia 6 de agosto de 1945 em Hiroshima, Yoshito Matsushige (1913-2005), fotógrafo do jornal local Chugoku, estava em casa, a 2.700 metros do impacto da bomba. Naquele dia, tirou apenas cinco fotos com sua Mamiya 6. Na ponte Miyuki, os corpos machucados e as roupas rasgadas de um grupo de estudantes ainda vivos é uma das imagens mais conhecidas do ataque. "Tive que esperar 20 minutos até ter forças para fotografá-los. Quando eu e outros fotógrafos chegamos ao epicentro, fomos incapazes de registrar qualquer imagem, tão dramático era tudo o que víamos. Hoje, eu me arrependo de não tê-lo feito", diz Matsushige. Às 11h02 do dia 9 de agosto de 1945 em Nagasaki, Yosuke Yamahata (1917-1966), fotógrafo da marinha imperial desde 1941, estava no departamento de imprensa do Exército em Hakata. Após 12 horas de viagem, chegou a Nagasaki às 3h do dia 10 de agosto. "À noite, ouviam-se gemidos e vozes de vítimas saindo das cinzas e da poeira dos escombros", conta Yamahata. Quando surgiram os primeiros raios de sol, ele tirou 119 fotos com sua Leica, que revelou na mesma tarde, quando retornou a Hakata. A série de imagens é o maior registro fotográfico da cidade logo após o bombardeio. As fotos de Yamahata foram publicadas nos grandes jornais japoneses em 21 e 25 de agosto de 1945. Depois de anos de censura, a revista Time as publicou em 29 de setembro de 1952, nos Estados Unidos. Nos anos 60, o fotógrafo de arte Shomei Tomatsu (nascido em 1930), através de um trabalho documental, produziu uma das séries mais conhecidas sobre a bomba atômica. Entre os outros fotógrafos da bomba estão Shigeo Hayashi e Hajime Miyatake, com suas impressionantes imagens panorâmicas da Hiroshima devastada, e Eiiji Matsumoto, com suas fotos de Nagasaki entre setembro e outubro de 1945 para a revista Kagaku Asahi. Também há os registros fotográficos feitos por Kenichi Himura e Hiromi Tsuchida, que exploram as vidas destruídas pela tragédia. Mas não houve apenas testemunhas japonesas. O repórter americano George Weller (1907-2002) entrou na cidade de Nagasaki em 6 de setembro de 1945 e tirou 25 fotos quando a cidade ainda estava fechada a jornalistas estrangeiros. As fotos e seu precioso relato de 75 páginas finalmente foram divulgados, 60 anos após terem sido censurados pelas forças de ocupação americanas.

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