Os estudos intimistas de Zomby

O processo criativo do produtor de dubstep Zomby é tão intenso quanto a aura que paira sobre sua figura é misteriosa. De algum lugar de Londres (ninguém sabe onde, pois Zomby não mostra a cara), ele produz algo em torno de 40 composições eletrônicas por semana. São faixas escuras, que trabalham com poucos elementos, combinando-os de forma inteligente, às vezes dançante, que buscam solucionar questões estéticas do mesmo jeito que um compositor erudito faria com uma série de estudos. Zomby as envia para DJs do underground londrino, as posta no YouTube e, vez ou outra, as reúne em disco. Dedication, lançado em maio pela influente gravadora 4AD (pode ser ouvido e comprado no Brasil através de download pela loja virtual juno.co.uk) é seu terceiro álbum desde que cavou espaço na cena londrina em 2007 e tornou-se um dos mais importantes produtores de dubstep, gênero que sintetiza as diversas tendências musicais da diáspora africana na europa, e os combina com elementos que vão de referências ao passado da música eletrônica à composição erudita contemporânea. Ultimamente, o gênero tem sido chamado de pós-dubstep, tantas são as influências que ditam seus caminhos. Dedication é um dos trabalhos significativos do gênero este ano. As faixas duram em torno de dois minutos cada uma e repensam constantemente a função de elementos-chave da música eletrônica (o sample de vocal, a melodia de sintetizadores, a forma com que bumbo, caixa e prato se relacionam), mesclando-os com rigor e atenção a gêneros próximos. Em Witch Hunt, por exemplo, um prato de bateria soa como um enxame de cigarras; em Florence, um motivo de xilofone flutua por cima de um ritmo acelerado em meio ao espaço negativo. A introspecção é a força motriz e o único momento mais sociável de Zomby é com o incensado roqueiro Panda Bear em Things Fall Apart.