28 de outubro de 2012 | 03h10
Rara produção do cinema marroquino a ser exibido no País, Os Descrentes, de Mohcine Besri, aproveita um ponto de partida político para discutir a relação da arte com a religião e, principalmente, as diferenças culturais que separam o Oriente do Ocidente. Presos, os atores descobrem que é por meio de sua arte que poderão conseguir a liberdade e o direito de continuar vivendo.
Depois de enclausurar o grupo em uma casa distante, o líder dos sequestrados não consegue contatar seus superiores para receber ordens sobre o destino dos artistas. Liga no celular, tenta acessar a internet e nada. Nasce, portanto, um impasse, pois um dos sequestradores prefere, pela falta de informações, assassinar os atores, enquanto o outro prefere aguardar por algum sinal.
Com isso, o líder do grupo teatral, ao perceber a situação, inicia um processo de negociação com o chefe dos bandidos: já que vão morrer, os artistas gostariam, como último pedido, encenar a peça ainda inédita para seus algozes. E, como precisam de um prazo para ensaiar, ganham um pouco mais de tempo.
É nesse momento que Os Descrentes exibe sua força maior. Apesar de seguidor fiel das convicções muçulmanas, o líder dos sequestradores revela-se um homem disposto a ouvir o outro, iniciando um tenso debate com o diretor do grupo. E, a partir de temas banais (como a liberação de um dos atores usar saia), despontam diferenças sobre religião e nacionalidade.
Realizado com um baixo orçamento (os atores chegaram a trabalhar por um salário simbólico), Os Descrentes mostra como a dúvida é, em momentos oportunos, mais valiosa do que qualquer certeza.
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