Os 90 anos de Tomie Ohtake

Uma mostra que atravessa os momentos importantes da trajetória da artista será inaugurada hoje, comemorando seu aniversário, na sexta

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Por Agencia Estado
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Na sexta-feira, Tomie Ohtake completa 90 anos de idade em plena atividade e mais brasileira do que nunca. Afinal, a exposição que será inaugurada hoje, no centro cultural que leva seu nome a situa como uma figura central da arte desenvolvida no País na segunda metade do século. Em diálogo com seus contemporâneos e ao mesmo tempo profundamente concentrada em si mesma, ela se dedica a construir uma poética visual absolutamente coerente, mesmo que diversificada. Para enfrentar o desafio de realizar essa mostra celebratória, que perpassa por todos os importantes momentos da trajetória da artista sem ter um caráter histórico e linear - afinal, recentemente foi feita uma grande retrospectiva de Tomie no mesmo endereço -, Paulo Herkenhoff elegeu uma questão central e polêmica da arte: a espiritualidade, a que se refere no título da mostra, Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira. "Evidentemente que não se trata de analisar religiões, tematizar valores e expor argumentos espirituais, mas de verificar como determinados traços metafísicos atuam nas artes plásticas", explica o curador e diretor do Museu Nacional de Belas Artes - instituição que passará a sediar a mostra a partir de janeiro, como uma espécie de celebração carioca dos 450 anos de São Paulo. A primeira e talvez mais impactante aproximação é a que situa Tomie na vocação barroca da arte nacional. Ao contrapor trabalhos, como uma pintura cega em vermelho (como Herkenhoff chama as obras fortemente expressivas realizadas pela artista no fim da década de 50 e início dos 60, com os olhos inicialmente vendados) ao lado de obras assinadas por um leque absolutamente diverso de artistas, que vão de Aleijadinho a Adriana Varejão, Guignard a Dudi Maia Rosa, passando por Tarsila, Samico e Leonilson, ele nos coloca diante de questões amplas e intensas como a convulsão da forma e a expressividade mais ou menos contida de suas pinceladas. A intenção é perceber como a obra da artista se inscreve e é recebida no cenário artístico, evidenciar sua singularidade, marcada por uma enorme sociabilidade e uma impressionante capacidade de recolhimento. Tomie é, segundo Herkenhoff, um ponto privilegiado a partir do qual podemos olhar a arte brasileira. Celebração - Além da exposição, com mais de 40 artistas e a ajuda de outros críticos e curadores próximos de Tomie como Miguel Chaia, Agnaldo Farias e Emanuel Araújo - este com dupla inserção, artística e curatorial -, o aniversário de Tomie será celebrado com uma mesa-redonda no dia 27, programas de televisão e o lançamento de um alentado catálogo pelo Instituto Tomie Ohtake (256 págs., preço a definir) e um DVD, realizado em parceria com a Documenta Vídeo Brasil e que traz uma entrevista inédita da artista com Haroldo de Campos (R$ 25). Serviço - Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira. De terça a domingo, das 11 às 20 horas. Instituto Tomie Ohtake. Avenida Faria Lima, 201, tel. 6844-1900. Até 11/1. Abertura hoje, às 20 horas, para convidados.

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