Onde está a felicidade?

Comédia do casal Bruna/Riccelli discute tema que está no ar, e busca a elevação

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Ela escreve, ele dirige e, quando Bruna Lombardi começa a mostrar a Carlos Alberto Riccelli os primeiros esboços do que será um roteiro, as contribuições que ele traz são sempre as de quem já está visualizando o filme que poderá sair dali. O casal (20?) do cinema brasileiro está de volta. Depois de O Signo da Cidade, a pegada é outra - Onde Está a Felicidade?. O filme estreou na sexta. Lançamento grande, com mais de 150 cópias. A distribuidora Fox acredita no êxito. "A sessão em Paulínia foi uma loucura e, depois, em todo lugar em que mostramos o Felicidade, o público reagia sempre do mesmo jeito, rindo muito", avalia Bruna.É a reação contrária à que ambos, parceiros na arte e na vida, provocaram com O Signo da Cidade. "Vi muita gente chorar no Signo. Tivemos sessões emocionantes no Brasil e no exterior", lembra Bruna. Felicidade nasceu na contramão do Signo. Depois do drama, o que fazer? Uma comédia, até como reação. Comédia, riso lembram felicidade. "Quando comecei a escrever, pensava no que é a felicidade, onde está?" A felicidade pode muito bem estar no ar - "Pesquisando sobre o assunto, descobri que o curso mais procurado na Universidade Harvard é "happier", que discute e ensina a ser feliz."No caso de Bruna, ela pensou na felicidade como uma experiência mística, espiritual - e, quase imediatamente, o Caminho de Santiago entrou na trama. "Sempre quis fazer o caminho, mas achava que seria impossível parar um mês inteiro com tudo para viver a experiência", ela comenta. Como num jogral, Riccelli acrescenta - "Eu também tinha uma curiosidade imensa pelo "caminho". Achava que seria bacana, mas também duvidava que um dia pudesse fazê-lo. Entre pesquisa e rodagem, terminamos fazendo o caminho seis vezes. Só ali ficamos três meses."O filme demorou seis para ser rodado. Filmar em outro país, no caso, a Espanha, é como fazer dois filmes. "Você tem todo o trabalho de preparação, uma equipe diferente, línguas diferentes. Mas foi tudo tranquilo. Lá, como aqui, as pessoas foram muito solidárias. E o Ri sabe como levar o set numa boa. Ele não eleva a voz com ninguém, e agrega. Faz com que todo mundo termine pegando junto." Ri é Riccelli, o marido, o companheiro, o cúmplice. A família que filma unida, permanece unida. Bruna e "Ri" trouxeram o filho, Kim, para as suas equipes. Ele pega junto com a mesma disponibilidade e entusiasmo dos pais."Fazer um filme é muito difícil. E é um risco grande - por mais empenho que você coloque, nunca consegue antecipar se o filme será bom. Estamos vivendo a angústia do pré-lançamento", dizia Bruna, na entrevista realizada no começo da semana passada. "O que nos tranquiliza é que as reações, em todas as sessões, têm sido boas", ela completa. É diferente escrever para comédia? "Penso primeiro nos personagens, na história e, em função disso, as situações vão surgindo. Como queria que fosse comédia, procurei ser mais leve, deixando o filme fluir."Riccelli observa que drama e comédia são rótulos. O que importa é sempre o personagem. E o elenco - "Adoro trabalhar com atores. Não existe prazer maior do que ler o roteiro imaginando o personagem e, depois, ver o ator lhe dar vida." Já que Bruna escreve o roteiro, como é trabalhar com ela, como atriz? Bruna interfere muito no processo? "A gente discute muito o filme, as intenções, os personagens, tudo isso antes de iniciar a filmagem. No set, ela é somente, ou acima de tudo, atriz."E Riccelli não tem vontade de atuar num de seus filmes? "Mas ela não escreve personagem para mim!", ele exclama. Já na confecção do roteiro, Bruna antecipava que o protagonista masculino de Felicidade poderia - deveria - ser Bruno Garcia. O filme será um blockbuster? "Nossa, nunca pensei no tamanho do filme. Foi após Paulínia que essa história surgiu. Mil, 10 mil, 100 mil, não me importa o número de espectadores. O que quero é tocar as pessoas. Quando se começa na poesia, como eu, o número não é o mais importante. Não tenho nada contra o sucesso, é muito bem-vindo, mas para mim a qualidade importa mais do que a quantidade", diz Bruna.

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