Offutt escreve sobre área rural nos EUA

O escritor americano escreveu um livro que trata da relação entre Justiça e família. O Irmão Bom é sobre um crime que permanece impune e que abala a pacada vida da cidade de Virgil Caudill

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Por Agencia Estado
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A pacata vida de Virgil Caudill é abalada com o assassinato do irmão, Boyd. Como o crime permanece impune, ele é pressionado por amigos e parentes a buscar a vingança. Com O Irmão Bom, o escritor Chris Offutt, de 43 anos, trata de um tema delicado: os ritos locais que estão acima da lei. Originário do mesmo local em que ambienta o romance (as montanhas do Kentucky), ele trata do tema sem condenar seus personagens, revelando que, apesar de sua cultura, acredita que, em certos casos, os fins justificam os meios. O Irmão Bom surpreendeu também pela elaborada pesquisa lingüística, ao retratar com precisão a forma antiquada com que ainda falam os habitantes das montanhas. "Nem fiz pesquisa, pois nasci e cresci ali", conta, em entrevista, por correio eletrônico. Agência Estado - O lançamento de O Irmão Bom no Brasil aconteceu na mesma semana do ataque terrorista em NY. Sua descrição, no livro, da forma como as pessoas entram em milícias armadas é terrivelmente realística. Como o sr. vê a coincidência? Chris Offutt - Milícias são uma forma de subcultura, que atrai pessoas que não se encaixam na forma convencional de vida. Todos buscam ser aceitos por um grupo, mas alguns necessitam mais dessa forma de identidade. Assim, as milícias oferecem justamente o que essas pessoas precisam, inclusive com ataques vistos em NY. O romance não faz apologia das milícias, mas mostra como esse tipo de atividade é importante na área rural mais pobre. É assim mesmo? Não acredito que as milícias sejam originárias exclusivamente das áreas pobres. É mais o caso de qualquer região desprovida de oportunidades - tanto de trabalho, como de aceitação grupal e de identidade. Era costume da Igreja assumir essa função. Nos dias atuais, menos pessoas estão interessadas na religião, mas freqüentemente os grupos de milícias têm uma forte base cristã. Outro fator importante é que os moradores de áreas rurais têm uma visão diferente dos da cidade sobre armas: eles as vêem como um brinquedo. Não temem os armamentos e sabem bem como usá-los. No meu país, as pessoas do campo têm uma vida difícil e fraca influência política. As armas, aliás, são um problema nos EUA. Como o sr. analisa isso? Pessoalmente, nasci em uma região rural montanhosa do Kentucky que cultua armas e me mudei para uma área em Montana igualmente incentivadora de armamentos. Não tenho nenhum tipo de arma em casa, mas gosto de saber que posso conseguir uma, se precisar defender minha família. O sr. acredita que um homem bom pode tornar-se mau por causa das circunstâncias? Tentei mostrar, no meu livro, que um homem bom pode cometer um ato muito ruim obrigado pela circunstância. Isso o transforma em um homem mau? Não acredito. Ele continua uma boa pessoa, mas culpado do erro que cometeu. Isso pode ser dito sobre muitos homens, exceto, claro, daqueles responsáveis por crimes de determinado grau. Serviço - O Irmão Bom, de Chris Offutt. Tradução de Paulo Reis. Editora Rocco, 336 páginas, R$ 34

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