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Obras de Bispo do Rosário que dialogam com esportes são exibidas em Londres

Wilson Lázaro, curador da exposição, escolheu 80 obras que mostram a faceta esportista do artista

Por Flávia Guerra - O Estado de S. Paulo
Atualização:

Um artista em constante movimento. Atento às marés que movem as paixões humanas mesmo internado em um manicômio (a Colônia Juliano Moreira, no Rio) em uma época em que TV era artigo de luxo, Arthur Bispo do Rosário teceu faixas de misses, simbolizando a representação dos países diante da competição entre as mais belas do mundo. Criou também barcos a vela, tacos de golfe, mesas alvo, raquetes de tênis, argolas de ginástica olímpica, entre outros "artigos esportivos". Não é por acaso que a grande exposição dedicada a um artista brasileiro pelo Victoria & Albert Museum, para celebrar os Jogos Olímpicos de 2012, escolheu Bispo do Rosário para representar o Brasil. Na maior exposição que ele já ganhou no exterior, parte da programação do London 2012 Festival, que irá levar à capital inglesa a obra de artistas de todo o mundo para celebrar os Jogos Olímpicos, o que o público do mundo todo verá é exatamente esta faceta esportista de Bispo do Rosário. Foi este recorte de 80 obras que o curador Wilson Lázaro, do Museu Bispo do Rosário, escolheu para levar a um dos mais importantes museus da Europa. "A obra do Bispo se renova por ela mesma. Não tem uma data, nenhum nome. Ele sempre esteve em movimento. Mais que isso, foi um esportista na vida, campeão de boxe, praticante de exercícios físicos quando integrou a Marinha. O esporte e o movimento sempre fizeram parte de seu imaginário e de suas obras", conta Lázaro, que a partir do dia 4 de agosto, trabalhará diretamente no V&A para cuidar dos ajustes finais da exposição, com abertura para o público no dia 13. "O Bispo é um presente para o curador. E uma surpresa. A equipe que está restaurando a obra que vai para o V&A (uma roupa azul clara) e também as que vão para a Bienal está fazendo um estudo. Há o mundo em sua obra", diz Lázaro sobre a escolha do viés esportivo da exposição londrina. "Eu a vejo como uma caixa de relíquias importantes para a vida. As obras com as barras, por exemplo. A priori, pensamos que são de ginástica porque têm argolas, mas, ao mesmo tempo, uma delas já não tem mais. É o imaginário de quem vê que cria o restante." É o imaginário do público internacional que será desafiado neste ano. Depois de 28 de outubro, a mostra segue para Lisboa. Antes disso, Bispo será também homenageado deste ano na Bienal de São Paulo, a partir de 7 de setembro. "A Bienal, que atrai gente de todo o mundo, vai contar com 340 obras dele. Destas, sete estão sendo restauradas. Cinco são inéditas. E uma das inéditas, um carro, com revistas, foi a grande surpresa deste processo", conta o curador. "Quando os restauradores retiraram algumas, encontraram revistas pornôs. Isso muda tudo. As pessoas sempre o colocaram como uma pessoa assexuada, que só teve um amor platônico, que foi a psicóloga Rosângela Maria. Mas a revista estava dobrada em determinadas páginas. Sinal de que foi lida sim." Para Lázaro, estamos presenciando o surgimento de um novo Bispo, que ganha mais força com outra descoberta. "Em uma das pernas do mesmo carro, ele escreveu a palavra Ateliê. E me parece uma pesquisa dele para criar as outras obras. É algo inédito."

Inédito também é o fato de a exposição no V&A não ter um catálogo. Em vez disso, o livro Arthur Bispo do Rosário - Século XX, com organização de Lázaro, vai ser relançado, com 26 obras novas, e texto de Luis Pérez-Oramas, curador da Bienal.

 

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