Obra de Snege volta ao mercado após longo hiato

Por iniciativa da família, livros do paranaense, cultuado por seus pares, estão à venda em livraria de Curitiba

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Por Guilherme Sobota
Atualização:

Alguns livros de Jamil Snege (1939-2003), escritor curitibano ‘cult’, estão novamente à venda. Fora de catálogo há mais de uma década, a inventiva ficção do autor conquistou leitores, mas enfrentou dificuldades de circulação. Seus livros podem agora ser encontrados na Livraria Arte e Letra. Os títulos à venda pelo site são a novela Viver é Prejudicial à Saúde (1998), a coletânea de contos O Jardim, A Tempestade (1989) e as poesias de Senhor (1989). A livraria também tem exemplares de Como eu se Fiz por Si Mesmo (1994) e Como Tornar-se Invisível em Curitiba (2000).

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Personagem singular da literatura produzida em Curitiba, Jamil foi uma espécie de guru para escritores como Cristovão Tezza e Miguel Sanches Neto, e fez parte de uma geração importante de escritores da cidade, como Valêncio Xavier, Wilson Bueno e Manoel Carlos Karam, além do próprio Dalton Trevisan . Snege nunca chegou a ser publicado por uma grande editora fora de Curitiba, em parte por vontade própria. Mesmo assim, seus livros atingiram leitores de outra regiões do Brasil, como os escritores Marçal Aquino, Nelson de Oliveira e Joca Reiners Terron, admiradores confessos da obra de Snege.

O escritor pernambucano, radicado em São Paulo, Marcelino Freire, gosta tanto de Snege que dedicou seu livro Rasif (2008) ao curitibano. "Um dos livros que mais impressionaram de imediato foi a novelinha Viver É Prejudicial à Saúde", diz Freire. "A linguagem, o humor, as frases certeiras do Jamil me fascinaram – e sempre são motivo de admiração e inspiração."

Foi Snege quem apresentou Marcelino à Boca Maldita, espaço tradicional de discussões políticas (e filosóficas) no centro de Curitiba. "Estar com Jamil era, de alguma forma, estar ao lado da lenda que é o Dalton Trevisan, seu amigo e parceiro. Sempre divulgo os livros do Jamil em minhas oficinas de criação literária. Essa notícia de que os livros dele voltarão a circular me anima."

"Quando li o Jamil pela primeira vez, de cara percebi que se tratava de um grande amante da palavra e da ironia", comenta outro grande fã da obra de Snege, o escritor Luís Henrique Pellanda. "Jamil era o dono preguiçoso de uma linguagem doce e perfeita, e que ele às vezes maltratava, como um pai afetuoso que, irresponsável, abandona o lar dia sim, dia não", conclui o autor do recém- lançado Asa de Sereia (Arquipélago), reunião de crônicas líricas e densas que tem o centro de Curitiba como palco principal.

Publicados sempre por conta própria ou por editoras locais, antes da nova iniciativa, os livros de Jamil Snege eram encontrados apenas em sebos, e livreiros pediam até R$ 500 por um único exemplar.

Publicitário para ganhar a vida, Jamil publicou onze livros, de vários gêneros: da autoficção ao ensaio sociológico, passando pela poesia e pelo conto. Como eu se Fiz por Si Mesmo (Travessa dos Editores, 1994) é o seu livro mais conhecido. Autoficção produzida num tempo em que o gênero ainda não era amplamente explorado no Brasil, o livro conta a vida agitada do curitibano, que passou pelo exército, foi jornalista, boêmio, intelectual frequentador das rodas de conversa na Boca Maldita e pai de família.

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Snege faleceu em 2003 em decorrência de um câncer de pulmão. Um imbróglio judicial envolvendo familiares e herdeiros do autor ainda impedem novas edições de sua obra.

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