05 de novembro de 2013 | 21h34
Despretensão: eis a palavra-chave para entender o romance de estreia de Celeste Antunes. O texto evoca um videoclipe verbal, colocando em cena a narrativa de uma geração que já nasce multimídia. A trama reúne cinco adolescentes da classe média paulistana e não pretende ser mais do que um ágil jogo de palavras, costurando uma sucessão de pequenas aventuras de Lucas, Teo, Sara, Fran e Miguel.
São transgressões que, no fundo, nunca colocam os personagens em risco.
No início do romance, os amigos estão num bar – uma ousadia, sem dúvida. Lucas vai ao banheiro; escuta-se “um barulho de garrafa quebrando lá em cima” e os amigos precisam deixar o bar às pressas. O que terá acontecido?
No entanto, tudo se esclarece rapidamente: “O que o cara do bar fez?”, pergunta Miguel. Algo terrível: “Ele disse que odiou meu cabelo”, responde Lucas. E, claro, reage à altura, demonstrando sua radicalidade: “Cuspi nele”. Depois: sebo nas canelas.
O episódio é uma miniatura do romance e, sobretudo, de seus limites. O texto nunca chega a alçar voo, embora às vezes revele o talento da autora. Para Quando Formos Melhores não compromete, mas não chega a ser uma promessa, pois o texto evidencia uma voz que ainda não se encontrou. Ademais, o narrador acaba por se confundir com os personagens em seu dia a dia de poucos dramas e muita segurança.
Ora, literatura não se escreve com rede de proteção: é preciso arriscar o salto.
JOÃO CÉZAR DE CASTRO ROCHA É PROFESSOR DE LITERATURA COMPARADA DA UERJ
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.