O valor do dinheiro, segundo a arte

Matheus Rocha abre mostra no CCBB do Rio

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

No Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, a Galeria de Valores é onde, há dois anos, está montada uma exposição permanente sobre a história do dinheiro, criada a partir do acervo de notas e moedas do Banco do Brasil. Fica no quarto andar do prédio histórico da Rua Primeiro de Março, no centro - e costuma receber crianças em excursão. No segundo andar, o jovem artista plástico Matheus Rocha Pitta montou a sua própria galeria, e com seus próprios valores. Ele escolheu dar o nome Galeria de Valores à mostra, na novíssima Sala A Contemporânea desde a semana passada, justamente para brincar com o perfil do edifício, inaugurado como sede da Associação Comercial, em 1906, e depois transformado em Banco do Brasil. É a primeira individual numa instituição deste porte do mineiro de 30 anos, cujo nome há dez ressoa no circuito das artes. No período, ele se mudou para o Rio e estudou História e Filosofia. São trabalhos inéditos, que Rocha Pitta desenvolveu de 2007 para cá e que discutem questões como a relação entre o dinheiro e a fé. Os nomes das obras aludem à vocação da casa: Fundo Falso, Fundos Reais, Jazida.Na entrada, pilhas altas de rolos de filme velhos, que ele conseguiu na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio, fazem as vezes de uma coleção de moedas gigantescas, de dimensões variadas. Mais à frente, está o oratório de Rocha Pitta, no qual a imagem de santos é substituída pela de notas de dinheiro e notícias de jornal de casos de corrupção em que grandes quantias são apreendidas pela polícia, recortadas pequenininho, que ele coleciona há tempos. A estrutura é de uma carcaça de TV, e a aparência é de uma caverna, já que o que sobrou do sistema da TV foi recoberto de cimento. "É como um gabinete de adoração particular", diz Pitta, que conviveu intensamente com a forte religiosidade de sua terra, a histórica Tiradentes: na porta de sua casa havia uma das famosas igrejas barrocas da cidade. Num terceiro ambiente, vídeos em sete monitores de segurança esquadrinham notas de R$ 1, R$ 2, R$ 5, R$ 10, R$ 20 e R$ 50 e R$ 100, expondo os detalhes, bem de perto, que as fazem verdadeiras - mas que, olhados isoladamente, as tornam irreconhecíveis. Ao lado, está a obra principal da mostra, uma escadaria cujos degraus são formados por blocos de isopor recobertos por notas falsas. Do alto do último degrau, olha-se para baixo e vê-se uma fonte dos desejos, onde os visitantes jogam moedas. "É um momento em que a pessoa atribui valor ao seu desejo, e é como se estivesse avaliando a própria exposição. Todo mundo tem seu poder de avaliação próprio. Não é o fato de eu estar aqui no CCBB que diz que eu sou bom", acredita Rocha Pitta, que tem prazer em circular pelas salas e observar as reações do público diverso do CCBB. "A aproximação com a questão do dinheiro foi através da noção de crença. Vivemos numa época em que o discurso econômico justifica qualquer coisa, é como se dinheiro fosse Deus." A nova galeria - aberta para dar visibilidade à produção de jovens artistas brasileiros de talento reconhecido - tem curadoria de Mauro Saraiva e já conta com exposições programadas até junho de 2011: o revezamento começou com Mariana Manhães e Matheus fica até 7 de novembro; em seguida, vêm Ana Holck, Tatiana Blass, Thiago Rocha Pitta e Marilá Dardot.GALERIA DE VALORESSala A Contemporânea,CCBB Rio.Rua Primeiro de Março, 66.Até 07/11De terça a domingo, das 10 às 21h.Grátis

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