Eles sempre gostaram de novas roupagens: literalmente falando e também para as músicas que compõem e cantam desde 1970. José de Lima Sobrinho e Durval de Lima (ou simplesmente Chitãozinho & Xororó) estão de volta às prateleiras das lojas dois anos de turnê pelo Brasil - com CD e DVD novos, gravados ao vivo. Do Tamanho do Nosso Amor foi produzido por Fernando (da dupla Fernando & Sorocaba) e reúne canções inéditas e grandes sucessos da carreira, com participações especiais de Dexterz e do rapper Cabal. "A música sertaneja mudou muito", explica Xororó. "E estamos sempre nos renovando, antecipando tendências..." A dupla, que completa 43 anos de estrada em setembro (com mais de 37 milhões de álbuns vendidos), falou à coluna sobre o começo, o meio e... o futuro - "a gente gosta demais do que faz para pensar em parar", avisa Chitão. A seguir, os melhores momentos da conversa.Após 43 anos de carreira, ainda se sentem desafiados? Chitãozinho: A cada projeto, até porque não conseguimos nos programar com antecedência. Esse negócio de pensar nos próximos cinco anos, por exemplo, não funciona com a gente. Em 2010, quando completamos 40 anos de carreira, saímos em turnê pelo Brasil inteiro. Fizemos shows até o ano passado. Aí, recebemos um convite do maestro João Carlos Martins.Xororó: As coisas vão acontecendo. O desafio, agora, é este Do Tamanho do Nosso Amor: o DVD, o CD, um novo show, com novo conceito.Mas por que novo conceito se vocês ainda tocam tanto nas rádios pelo País todo? Xororó: É que percebemos que as músicas que tocam são as mais antigas. Aí, falamos: "Caramba, a gente precisa renovar esse nosso som, tem muita coisa antiga (risos). A ideia, então, foi dar uma reciclada.Chitãozinho: Aí chamamos o Fernando (da dupla Fernando & Sorocaba).Xororó: A gente se identifica muito com o som deles e queríamos que o Fernando fizesse os arranjos de duas ou três músicas. Só que, quando ele mandou o material de volta... né, Chitão?Chitãozinho: Aí, complicou, porque estava bom demais. Ele havia entendido perfeitamente o que a gente queria. E eu disse: "Rapaz, acho melhor ele fazer tudo!"Ou seja, vocês complicaram a agenda do Fernando. Xororó: (risos) Pois é. A gente queria fazer um CD e gravar o show para registro na internet, com edição dinâmica, cortes rápidos. Só que o trabalho ficou excelente.Chitãozinho: Quando a gente mostrou a captação de vídeo para o pessoal da Som Livre, eles disseram: "Que internet o quê! Isso é um DVD!" E o pior é que eu já tinha mixado em estúdio para o CD... tive de refazer tudo.A ideia de modernidade já está na capa do DVD, né? Chitãozinho: Com certeza. Assim que vimos a foto (são as mãos de uma jovem com um iPhone, fotografando o show), pensamos: "É a capa!". Porque não tem nada mais moderno. Era o que a gente queria.O público jovem gosta muito de vocês. Como se explica isso? Chitãozinho: É muito emocionante. Durante a gravação do DVD, isso pegou muito a gente. Depois da última música, tem um bônus que é só o público, muito jovem, cantando Evidências. Vou te dizer: eu não aguentei, comecei a chorar.Vocês são tidos como a dupla que abriu as portas das rádios FM para a música sertaneja, em 1982. Sentem essa importância? Chitãozinho: A gente ouve muito isso... acho que fomos os primeiros a derrubar o preconceito que existia em relação à música sertaneja.Xororó: Fomos os primeiros a ousar, com certeza.Chitãozinho: Porque, no começo da carreira, era um gueto. Muita gente tinha vergonha de dizer que ouvia música sertaneja. Era comum o "doutor", o empresário, mandar o motorista na loja comprar o disco. Mas, de repente, a gente estava frequentando os shows do pessoal da MPB, do rock, da Jovem Guarda. E o público cantando junto.Xororó: A gente sentiu necessidade dessa mudança. Mudança de postura, de roupa, de sonoridade. O desafio foi fazer isso sem perder nosso público tradicional. Então, num mesmo disco, a gente juntava músicas com uma bateria mais pesada, por exemplo, e outras com a presença da viola. Hoje, é comum ver, nos shows, famílias inteiras, várias gerações de fãs.Vocês estão planejando um filme biográfico, ao estilo 2 Filhos de Francisco? Vai ser dirigido pelo Fernando Meirelles? Xororó: Existe, sim, um projeto. A gente precisa é parar para alinhavar os detalhes.Chitãozinho: É um desejo do Fernando e nosso. Xororó: E existe uma cobrança muito grande por parte do público também...Chitãozinho: O Fernando já disse que a nossa vida daria um longa. Só não sabemos se ao estilo 2 Filhos de Francisco ou em ritmo de documentário. Em algum momento, nesses 43 anos, vocês pensaram em carreira solo ou em parar? Chitãozinho: Carreira solo, não... Mas em parar nós chegamos a pensar, sim. Xororó: Logo no início, né, Chitão? Porque a gente estava no prejuízo (risos). Nosso pai era motorista de caminhão, a gente era em oito irmãos. Paramos de estudar quando chegamos a São Paulo (eles são de Astorga, no Paraná). O Chitão trabalhou durante mais de um ano como cobrador de ônibus lá em Mauá. Aí, começamos a cantar. E pintaram uns showzinhos...A família precisando de dinheiro e vocês resolvem cantar! Xororó: (risos) Mas um show só já dava mais dinheiro do que o Chitão ganhava em um ano. Só que, em uma turnê pelo Paraná... cara, deu tudo errado!Chitãozinho: Ah, nem lembra. Uma geada forte, em 1975... e a gente voltou sem nada, só com o carro - e o tanque seco!Xororó: Aí vendemos o carro. A gente estava pensando seriamente em parar, para poder ajudar a família. Porque show em São Paulo era mais difícil. A gente estava super pra baixo quando tocou no rádio lá de casa Tente Outra Vez, do Raul Seixas. Um sinal. O Chitão foi até a gravadora, pediu um adiantamento. Fechamos mais dois anos de contrato. Fomos tentar outra vez. Deu certo... Em 1979, veio o primeiro disco de ouro, o LP 60 Dias Apaixonado.Chitãozinho: E a gente gravou Tente Outra Vez pela primeira vez para este DVD novo. Já estava mais do que na hora, né?