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O presente de Baryshnikov

Por Crítica: Helena Katz
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Começar Três Solos e Um Dueto, apresentado terça e quarta-feira no Teatro Bradesco, com a Valse Fantasie (2009), faz todo o sentido. É trazer algo da sua própria história, aqui representada por Alexei Ratmansky, o coreógrafo que nasceu na São Petersburgo, onde estudou e, depois de revigorar o Ballet Bolshoi, tornou-se artista residente no American Ballet Theater, em Nova York, cidade onde ele vive. Ratmansky repropõe o vocabulário do balé clássico com o frescor ajustado a um corpo de 62 anos de muitas competências consolidadas. Afinal, trata-se de Mikhail Baryshnikov.O passado está também em Years Later, obra de Benjamin Millepied (2006,2009) mostrada na turnê brasileira de 2007, e que agora temperou melhor as contundências. Nela, Baryshnikov desenvolve um diálogo com a sua dança aos 17 anos, como se a memória se externalizasse nessas imagens projetadas na obra.O programa é o avesso da glamourização. Com Baryshnikov e Ana Laguna, torna-se um presente recheado de reflexões sobre a importância de artistas como esses se manterem ativos.Quando Baryshnikov dança, o fetiche do seu status de estrela se projeta nos gestos de agora, igualmente precisos e elegantes. E como evitar os ecos da Giselle na versão de Mats Ek, de 1982, que eternizou Ana Laguna (ou seria o contrário?) na sua dança de agora? Quando transforma seus braços em setas, em moinho, ou quando recolhe o movimento como se tivesse cometido uma impropriedade - é o mundo inventado por um gênio chamado Mats Ek que nos engolfa.Nas suas duas coreografias, um extrato de Solo for Two (1996) e Place (2007), o balé está cada vez mais jovem, revirado, realinhado. Aliás, entre os três, fica difícil eleger quem está envelhecendo melhor, se Baryshnikov, Ana Laguna ou Mats Ek, dada a justeza com que floresce, em cada um deles, uma sabedoria artística impactante. Em Places, com música de Fläkkvartetten, isso fica muito claro. Não à toa, trata-se de uma obra-prima.

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