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O olhar vivo de Feininger

Imagens da Nova York dos anos 1940 estão em mostra que reverencia o fotógrafo, dono de uma estética preciosa

Por Andreas Feininger e Simonetta Persichetti
Atualização:

"Assim como a palavra falada ou escrita pode ser usada de maneira inteligente para transmitir conhecimento, comunicar ideias e estimular a mente, ou desperdiçada em tagarelice vazia, assim também a fotografia pode dar ao espectador algo que vale a pena ver ou fazê-lo perder tempo com um blá-blá-blá visual. Consequentemente, a qualidade mais importante de uma fotografia é seu conteúdo", escrevia o fotógrafo Andreas Feininger (1906-1999) em 1993 no texto Uma Filosofia da Fotografia. Coerente com suas palavras é conteúdo e beleza que encontramos na exposição Andreas Feininger: Nova York Anos 40, que está em cartaz no Museu Lasar Segall até o dia 26 de junho. São 93 imagens, alguns exemplares da revista Life, suas câmeras e os filmes que costumava usar. Imagens que remontam a uma cidade já fascinante e cheia de geometria e estruturas - como qualquer metrópole - captadas com elegância e fotogenia pelo artista. Um lugar revelado pelas sombras e pelos contrastes. Cenários impactantes que crescem diante de nosso olhar: um conteúdo preciso, uma estética preciosa. Arquiteto de formação, com estudos até mesmo na escola alemã Bauhaus, Feininger inicia sua carreira na fotografia em 1929. Dez anos depois, por causa da 2.ª Guerra Mundial, deixa a Europa e muda-se para os Estados Unidos onde se torna fotojornalista na agência Black Star. Nessa época como "fotógrafo geral", cobria de tudo: polícia, cidade, desfiles de moda, cultura, etc. Durante um ano ele permaneceu na agência e, apesar do trabalho duro, conseguia tempo para fotografar a cidade por conta própria. Foi nesse período que iniciou a sua colaboração para a revista Life, uma das mais reconhecidas revistas de atualidade. Ficou na publicação até 1962. Assim como nas suas imagens de arquitetura, ou melhor dizendo em seus retratos da cidade, no fotojornalismo seu olhar é curioso, interessado: "Sem interesse não me importa o quão importante seja o objeto em si, minhas fotografias não passariam de medianas", escreve o fotógrafo. Medianas são tudo o que suas imagens não são. Na mostra, acompanhamos a sua avidez visual em busca da paisagem urbana, os grandes planos, as panorâmicas, os retratos de rua. Tudo registrado como se tivesse sido visto pela primeira vez. Ciente de que a fotografia deve ser lida, Feininger sabia que a imagem deveria trazer em si o fator comunicativo, sendo acompanhada de poucas palavras. Mas ele também foi homem de palavras, publicou mais de 50 livros sobre fotos nos quais analisava o ato de fotografar tanto do ponto de vista técnico como o da criação artística. Assim como suas imagens, seus textos também se tornaram fundamentais para quem quer aprender essa arte.Seguidor da regra "menos é mais", ao passear por sua fotografias fica a certeza de que ele nunca desperdiçou seu olhar num blá-blá-blá imagético e que ainda hoje suas imagens ainda têm muito a dizer e a ensinar.

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