O olhar lírico de uma câmera pop

Carey Lander, do Camera Obscura, fala sobre o som contagiante e melancólico da banda que vem a São Paulo

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Por Roberto Nascimento
Atualização:

O lirismo melódico acompanhado de arranjos despretensiosos, recheados de referências ao pop dos anos 60, faz do indie pop um gênero difícil de se classificar. Enquanto grandes nomes como Field Mice e Belle and Sebastian podem ser encontrados na mesma prateleira, a simplicidade romântica desses grupos deu vez, na última década, ao dito pop fofo, aquela popular soma de menina mais violão e voz meiga que nem sempre se iguala à boa música. Felizmente, os últimos anos viram o ressurgimento de um indie pop de pedigree, liderado por boas bandas como o Camera Obscura (CO), que se apresenta no Studio SP, nos dias 26 e 27, como parte da programação do Whisky Festival, e depois parte para o Recife, onde tocará no Club Nox.

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O grupo de Glasgow faz um pop orquestral que seduz com melodias preguiçosas, aconchegantes e de rara beleza, na veia de grandes mestres como Burt Bacharach e Beach Boys. Desde 2002, quando já em seu primeiro disco foram apadrinhados pelo lendário radialista da BBC John Peel, o grupo tem produzido excelentes trabalhos com canções que vão do melancólico ao pop mais contagiante. Os mais recentes, Let"s Get Out of This Country e My Maudlin Career retratam uma banda em ascensão. A vocalista e tecladista do grupo, Carey Lander, falou à reportagem do Estado.

O CO é uma das poucas bandas que conseguem se valer de referências aos clássicos sem se perder na nostalgia. Como se dá esse equilíbrio?

É uma pergunta difícil. Nós ouvimos muita música antiga. Coisas dos anos 60 como Everly Brothers, Supremes e Conny Francis. A simplicidade desses discos, a maneira com que foram gravados, a instrumentação deles, tudo isso é uma grande influência. Mas não tentamos recriar algo que foi feito há 50 anos. O que fazemos é misturar essas referências à voz de Tracyanne (Campbell, cantora e compositora da banda) que é o elemento central de nossas músicas e nada tem de retrô.

Glasgow é uma cidade grande relativamente pequena cuja cena tem gerado grandes bandas como vocês, Belle and Sebastian, Franz Ferdinand e Glasvegas. O que há de especial por lá?

Não sei dizer. Acho que isso acontece porque Glasgow é uma boa cidade para se formar uma banda. Há muitos lugares para se apresentar e muitos músicos experientes para aconselhar os novatos.

No entanto, o penúltimo álbum do CO leva o nome de Lets Get Out of This Country (vamos dar o fora deste país). Por quê?

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Nós estávamos cansados de não ser levados a sério na Escócia. Viajávamos, tocávamos em shows lotados em festivais como o South by Southwest, mas na volta tínhamos de trabalhar para sustentar a banda. Isso mexe com sua cabeça. Você se acostuma com a ideia de ser musicista e, quando volta para casa, tem de servir bebidas para ganhar a vida.

E foi sempre assim?

Sim. A banda tem mais de 15 anos mas só largamos nossos empregos no ano passado.

A base de fãs do CO tem crescido bastante. O som muda?

Nós não fazemos música comercial e nunca tivemos essa preocupação. Por isso, evoluímos naturalmente enquanto out bandas sofriam com o excesso deatenção.

My Maudlin Career, o disco da turnê, traz duas ou três canções alegres entremeadas a um bocado de tristeza. Era essa a intenção?

A banda não queria mas, no fundo, era a minha intenção fazer um álbum de fossa. As letras são tristes e de um honestidade brutal. Talvez porque eu saiba sobre o que elas são, fiquei chocada quando Tracyanne as mostrou pela primeira vez. Olhava para ela e dava graças a Deus por ela estar realmente preparada para dizer aquelas coisas.

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DISCOGRAFIA

Biggest Bluest Hi-Fi

O primeiro do grupo chamou a atenção com o hit Eighties Fan.

Underachievers Pleas Try Harder

Boas canções como Teenagers fizeram sucesso nos EUA.

Let"s Get Out of This Country

De produção mais elaborada, o disco mostra o amadurecimento da banda.

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My Maudlin Career

Em meio a canções tristes, traz também melodias mais otimistas como French Navy.

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