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O ofício da poesia

Encontro em São Paulo relembra o autor de O Arco e a Lira, relançado agora no Brasil

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Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

O mexicano Octavio Paz (1914-1998), poeta e pensador de seu ofício, Nobel de Literatura de 1990, foi lembrado na quarta-feira em debate que reuniu, no Instituto Cervantes, o cientista político Celso Lafer, membro da Academia Brasileira de Letras, Danubio Torres Fierro, editor da Fondo de Cultura Económica no Brasil, e Laura Greenhalgh, editora executiva do Estado. A conversa, com apoio do Sabático, marcou o lançamento da nova tradução de O Arco e a Lira, clássico de Paz, pela Cosac Naify e Fondo de Cultura.Além de poeta, Octavio Paz era ensaísta e diplomata, tinha um espírito crítico afiado e foi professor de Lafer na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, durante seu doutorado nos anos 1960. "A figura dele me impactou porque vi nele a encarnação do poeta que era ao mesmo tempo criador e pensador", comentou. Com o professor, aprendeu que não poderia escrever sobre filosofia ou outro assunto e compreender a vida política sem antes meditar sobre as tragédias gregas ou ler, entre outros, Shakespeare e Dostoievski. Em contrapartida, o jovem aluno o presenteou com livros de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, sobre quem conversavam com frequência. Murilo Mendes era outro brasileiro entre os favoritos de Paz, que não se conformava com o fato de o Nobel nunca ter premiado um brasileiro, e citava Machado de Assis como merecedor. Laura Greenhalgh relembrou o debate organizado pelo Estado em 1985, quando Paz veio pela primeira vez ao País atendendo ao convite do jornal e da USP. Participaram Julio de Mesquita Neto, Ruy Mesquita (atual diretor de Opinião do Estado) e ainda Celso Lafer e Haroldo de Campos, entre outros. Ela destacou a relação duradoura e profunda do jornal com o pensador. Uma ida ao arquivo ou uma consulta ao acervo, agora disponível na internet, e o leitor encontra artigos exclusivos, entrevistas, cartas e resenhas publicadas no jornal. "Esta era certamente a casa periodística de Octavio Paz no Brasil. Havia uma confluência de visão de mundo. Nós atravessávamos o período da guerra fria, vivíamos a ditadura no Brasil e no Cone Sul e, de repente, suas ideias vinham abrir janelas. O Arco e a Lira é um exemplo desse alargamento de pensamento que Octavio Paz teve. Com este livro, ele faz um voo intelectual que não tem muitos similares na literatura", disse Laura.O uruguaio Danubio Fierro destacou três aspectos que marcaram a produção do amigo e ex-editor, com quem trabalhou na Vuelta, uma das revistas de Paz: sua relação de amor e ódio com o México, a fatalidade de ser poeta e a de ser moderno. Sobre a obra em debate, disse: "É notável como encontramos, em cada página, uma verdade que ainda ressoa".

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