Dos quatro gols assinalados na decisão contra a Tchecoslováquia, em Santiago, só pude curtir os dois últimos. Os dois primeiros (Masopust para os tchecos e Amarildo para as nossas cores) me pegaram exercendo a função de improvisado parteiro da gata da atriz Irma Alvarez, a cujo apartamento fora levado por Reginaldo Faria e Sérgio Sanz. Depois subimos a Avenida Copacabana a reboque da fuzarca que se seguiu ao 3 a 1. Já sem Irma, presa às suas obrigações de avó de três ou quatro gatinhos.
Perder os primeiros 20 minutos de uma final de Copa cuidando do parto complicado de um felino alheio talvez seja ainda mais esquisito do que assistir a uma Copa inteira na pátria do beisebol. A melancólica despedida do Brasil da Copa de 66, em Liverpool, me pegou encarapitado no teto de um carrão, a segurar firme a cintura de um cameraman e a dar voltas em torno da Cinelândia. O carrão era de Carlos Heitor Cony, improvisado motorista da pequena equipe montada por Mauricio Gomes Leite para a realização de um documentário sobre Otto Maria Carpeaux, O Velho e o Novo, fotografado por José Carlos Avellar. A intenção era contrastar a prenunciada depressão do povo nas ruas (já havíamos perdido para a Hungria, quatro dias antes) com o desencanto filosófico de Carpeaux, a quem me cabia paparicar e descontrair durante as filmagens. Carpeaux desprezava todos os esportes e é possível que nem Pelé tenha visto jogar. Temos de convir que meu programa na tarde de 19 de julho de 1966 foi mais surpreendente que o da tarde de 17 de junho de 1962. Pelo menos 70 minutos da vitória no Chile consegui acompanhar. Da tunda que os portugueses nos deram, nem um segundo ouvi. E foi melhor assim.