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O mesmo groove 40 anos depois

Por Lucas Nobile
Atualização:

O ano era 1971 e a inventividade de dois álbuns agitava novamente a música brasileira. Tudo porque Dom Salvador concebeu Som, Sangue e Raça, com o grupo Abolição, dando o pontapé inicial ao que mais tarde culminaria no Black Rio. Na mesma época, ao lado de Paulo Moura, Waltel Branco e Leonardo Bruno, o pianista e compositor assinou os arranjos e tocou no disco homônimo e sacudido de Tony Tornado. Na ocasião, eles receberam o aviso de Milton Miranda, diretor da Odeon, no Edifício São Borja, sede da gravadora na Avenida Rio Branco, de que o disco não servia para vender no mercado. Bastou o álbum sair para que Tornado e Salvador fossem demitidos. "Pagamos o preço pelo vanguardismo. Ainda hoje tem gente tentando fazer o som que a gente criou há 40 anos. Tinha músico que fugia, achando complicado demais. Eu, que não sou músico de formação, devo tudo ao Dom Salvador, ele é meu referencial", conta Tornado. Os discos viraram cult, saíram de catálogo há anos e agora, 40 anos depois, diversas gerações terão a oportunidade de ouvir boa parte daquele repertório, à meia-noite de domingo, no show que contará com Dom Salvador, Tony Tornado e os integrantes restantes do lendário Abolição, no Palco República, da Virada Cultural. Após acompanhar o ensaio, pode-se dizer que o show tem tudo para ser um dos melhores desta edição da Virada, com 18 músicos mandando brasa no mais legítimo groove do soul brasileiro. Tanto tempo depois, impressiona o carinho que eles têm com tais temas, com todos pacientemente combinando os mapas das músicas, Salvador acertando as notas com as backing vocals, Tornado relembrando as letras e o naipe de metais afinando ataques e convenções. Sob comando do mestre Dom Salvador e da pegada espantosamente jovial de um Tony Tornado - que completa 81 anos no fim de maio -, eles reviverão temas como Number One e Uma Vida (ambas de Salvador), além de Bochechuda, Aposta, Podes Crer, Amizade, Não Grile a Minha Cabeça, Eu Tenho Um Som Novo (de Tornado) e a antológica BR-3 (de Tibério Gaspar e Antônio Adolfo). "Naquela época, criamos tudo isso de maneira espontânea, sem ser forçado. Não posso deixar de mencionar o Itaiguara Brandão e o Oriente Lopez, que fizeram toda a transcrição dos arranjos originais para a gente poder realizar esse projeto. Para nossa satisfação, é muito especial poder voltar 40 anos no tempo e tocar esse repertório novamente", diz Dom Salvador.

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