O mar de histórias curtas de Jorge Amado

O escritor baiano produziu contos para revistas e jornais, dos quais foram selecionadas as narrativas de Cinco Histórias. Veja especial sobre Jorge Amado

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Por Agencia Estado
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Jorge Amado gostava de dizer que seu texto era prolixo, sem chance para a síntese. Assim, escreveu praticamente só romances, pouco se aventurando em outros gêneros literários. Quando convidado, porém, ele produziu alguns contos, que estavam esparsos até a Fundação Casa de Jorge Amado, na Bahia, selecionar os mais representativos e reuni-los em Cinco Histórias (116 págs., R$ 60), livro que foi oficialmente lançado hoje, às 18h30, na Academia Brasileira de Letras, no Rio. São histórias sobre assuntos que Amado tratava com intimidade: carnaval baiano, jogatina, morte. Em alguns, como Do Jogo de Dados e dos Rígidos Princípios, percebe-se até o fôlego para se transformar em uma narrativa maior graças ao final aberto. "Para mim, é muito mais fácil dominar as grandes extensões do que fazer sínteses, que é o que o conto exige", disse ele em entrevista ao Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Sales. "É por isso que me aventurei pouco em outros gêneros. Sou mesmo um romancista." "Mesmo assim, Jorge Amado utilizava os contos para dar espaço aos personagens de outros romances que insistiam em não abandoná-lo", comenta Myriam Fraga, diretora da fundação e organizadora dos textos. "Quitéria, por exemplo, da novela A Morte e a Morte de Quincas Berro D´Água, aparece em um dos contos, assim como Teresa Batista, que surge como irmã de uma prostituta em História do Carnaval." A edição conta com ilustrações de cinco artistas convidados, que buscaram criar com o texto a mesma intimidade mantida com Carybé, ilustrador cativo das obras de Jorge Amado. Myriam lembra que a seleção dos contos começou com a ajuda do próprio autor, que morreu em agosto de 2001, aos 88 anos - com a organização do acervo da fundação, pesquisadores iniciaram uma busca pelos textos curtos, publicados em sua maioria em revistas (História do Carnaval, por exemplo, saiu em uma edição de O Cruzeiro, de 1945). "Se era prolixo até na oratória, levando horas para contar um caso saboroso, Jorge, porém, não dava importância às pequenas histórias, que não considerava algo importante." Myriam não concorda. Segundo ela, os contos de Amado mostram a mesma característica essencial dos romances, que é a presença de um povo brasileiro reconhecido em toda a sua força e divindade, algo que dificilmente é notável no texto de outro nome da literatura nacional. É surpreendente a dimensão popular e internacional de sua obra, como mostra a freqüência da Fundação Casa de Jorge Amado: na semana passada, a instituição recebeu a visita de uma pesquisadora italiana e do presidente do Pen Clube da Galícia, na Espanha. "Há ainda muita curiosidade sobre seus livros", atesta Myriam, lembrando que, só no ano passado, cerca de 96 mil pessoas visitaram o espaço. Localizada em um estratégico ponto turístico de Salvador, o Largo do Pelourinho, a fundação conta com acervo de mais de 200 mil documentos entre fotos (que totalizam 50 mil), originais, correspondência e exemplares de traduções em 49 línguas. Myriam prepara agora a seleção de artigos publicados em jornais e de teses acadêmicas. Para isso, busca apoio cultural de empresas, como a Braskem, que financiou Cinco Histórias.

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