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"O Manuscrito", entre o real e o irreal

Novo livro do embaixador brasileiro na Malásia, Edgard Telles Ribeiro, conta uma história não-linear, criando mosaicos e labirintos, com personagens no limite entre o real e o irreal

Por Agencia Estado
Atualização:

Paulo Valadares é um escritor envolvido com suas criações. Gretta, por exemplo, é uma mulher misteriosa, que tanto pode existir, como ser mera elaboração do autor. Como musa inspiradora, porém, deixa a desejar, pois critica além da conta, mas também se entrega - é mais amante que musa. A relação entre ambos, que envolve também um fantasma, é o fio condutor de O Manuscrito, romance que Edgar Telles Ribeiro estará lançando nesta quarta-feira à noite, na Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos, zona oeste de São Paulo. A história, porém, não segue um desenvolvimento linear, pois o autor, auxiliado pelo fantasma, trabalha na fronteira entre o real e o irreal, criando mosaicos e labirintos. "Dependendo das situações, um fantasma pode representar um excelente contraponto para o personagem central", comenta Ribeiro. "Neste livro, que lida com temas como vida, morte e insanidade, a existência de um fantasma me permitiu injetar na narrativa uma certa dose de leveza. Não se trata, portanto, de um fantasma tradicional (assustador) e sim de uma espécie de alter-ego do narrador. Mas como, na vida real, narrador e fantasma haviam sido amantes (em outros tempos), a história tambem abre espaço para todo um jogo de seduções." O fascinante na história, porém, é o jogo promovido por Ribeiro sobre a sanidade do personagem principal - como ele perde a sanidade aos poucos, até enlouquecer totalmente, o leitor não sabe se está diante de um homem lúcido, que divaga sobre a loucura à sua volta. "Essa é justamente uma das propostas do livro, transitar, tal uma fuga de Bach, entre todos esses planos", comenta o autor. "Meu pai morreu de Alzheimer e eu acompanhei de perto a progressiva perda de consciência dele. O que, para muitos teria sido penoso, foi, para mim, uma bela e poética fonte de aprendizado sobre essa multiplicidade de realidades que nos cercam (e nos abandonam)." A inspiração do cinema (já dirigiu curtas-metragens, além de ter escrito críticas) reflete-se na agilidade dos diálogos, característica de outros romances mas que se acentua neste. "O cinema sempre fez parte de minha vida, de modo que é bem possível que eu ´filme´ ao escrever", explica. "Alguns de meus livros, ou contos, são mais visuais do que outros. Mas cabe ao leitor, em última análise, sentir isso, em função de sua intimidade com os dois meios de expressão. Pessoalmente acho O Manuscrito um livro quase impossível de ser filmado, já que ele se passa, em boa medida, dentro da cabeça das personagens. Os desafios de adaptação seriam enormes (e bem interessantes)." A ação do livro se passa na Nova Zelândia, onde Ribeiro serviu como embaixador brasileiro - atualmente, ele comanda a embaixada na Malásia. Antes, já servira em Los Angeles, Nova York, Quito e na Guatemala. A variedade de cenários, provocada pelas constantes viagens na carreira diplomática, serviu-lhe como fonte de inspiração. "Quase sempre parto de um fato verídico e ´viajo´ em cima. Às vezes, pode ser um minúsculo detalhe. O que importa é que seja verdadeiro (nem que seja verdadeiro só para mim...) e que ´bata´ em mim com força suficiente para capturar meu interesse." Serviço - O Manuscrito. De Edgard Telles Ribeiro. Editora Record. 224 páginas. R$ 28,00. Nesta quarta, às 18h30. Livraria Cultura/Shopping Villa-Lobos. Avenida das Nações Unidas, 4.777, São Paulo, tel. 3024-3599

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