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O legado polêmico da Semana de Arte Moderna de 22

Por Agencia Estado
Atualização:

Hoje, ninguém mais discute o "modernismo". Todos o aceitam e o aplaudem. A Semana de Arte Moderna, no Municipal, foi um grande êxito. Êxito que, neste mês completa 80 anos. Em 13 de fevereiro de 1922, o Teatro Municipal de São Paulo abriu-se para a exibição de conferencistas, escritores, pintores, artistas, músicos e poetas que prometiam escândalo e confusão. E, antes que se acuse o plágio: os primeiros períodos deste texto são uma citação praticamente literal do texto "Futurismo no Municipal", de Oswald de Andrade, publicado no "Correio Paulistano" no dia 12 de fevereiro de 1922. Apenas se substituiu o "futurismo" pelo "modernismo", e o futuro composto - "vai ser" - pelo passado simples - "foi". Futurismo - O sentido, contudo, foi mudado: se o futurismo, primeiro nome do modernismo, parecia ser uma unanimidade por sua força de juventude (na verdade, não era; houve reação e silêncio diante da festa patrocinada pela elite paulista), o oposto ocorre com o movimento hoje. A aceitação e o aplauso surgem da força dos conceitos formulados nos anos 20 do século passado e da realização de grande parte de suas propostas libertárias. "O problema é que o modernismo só é discutido de forma reverencial", defende Paulo Franchetti, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para ele, é preciso debater as categorias que o modernismo transformou em "naturais", como, por exemplo, o "pré-modernismo", um grande rótulo que engloba tudo o que ocorreu entre a produção realista e 1922. "Os modernistas fizeram o que tinham de fazer: eram uma vanguarda combativa", diz. "Eles foram tão eficazes na defesa de seus valores que toda a cultura brasileira é analisada a partir dessa perspectiva: de que o modernismo descobriu a ´brasilidade´ verdadeira, de que tudo o que veio antes é prenúncio e de que tudo o que veio depois é solidificação." "Ninguém discute no sentido de aceitar ou não", relativiza o poeta e crítico de arte Ferreira Gullar. "Aquilo não é mais chocante para a população culta", continua. Para ele os modernistas de fato ajudaram a apagar da história da pintura brasileira nomes do século 19 que são melhores do que se fez crer. Inclui na lista Eliseu Visconti e Vicente Amoedo. "Mas a história não se faz por continuidade; se eles fizessem essas considerações, não haveria o modernismo." "Embora haja momentos de constestação, como a geração de poetas de 1945, que tinha um programa contrário ao do modernismo, o movimento é ainda uma espécie de pai espectral", afirma Maria Eugenia Boaventura, também professora da Unicamp e organizadora de "22 por 22 - A Semana de Arte Moderna Vista pelos Seus Contemporâneos" - (Edusp), uma reunião de textos sobre o modernismo originalmente publicados em jornais e revistas neste ano mítico da cultura brasileira. História - No fevereiro de 1922, um grupo de artistas e intelectuais de São Paulo, liderados por Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia e Paulo Prado, e vindos do Rio, como Di Cavalcanti, Villa-Lobos, Prudente de Moraes Neto e Manuel Bandeira, puseram a cultura brasileira em dia com o que ocorria no mundo - ou seja, a Europa do pós-guerra. São Paulo virava o centro da vida cultural do País. Os conceitos "importados" nas viagens à Europa nem sempre seriam bem compreendidos pelos modernistas. Preocupados em manterem-se atualizados, muitos se esqueciam de dar atenção aos acontecimentos históricos pelos quais a Europa passava. Devastada pela Primeira Guerra, o continente já não vivia os eufóricos dias da belle époque. A turma que foi à Europa depois de 22 encontrou países deprimidos com a mortandade da guerra. Na França, as discussões eram dominadas pelos dadaístas, pelos surrealistas, que procuravam um mundo onírico, longe das agruras cotidianas.

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